Muito novo para morrer
Quando Porto Alegre ainda não botava gente ruim pelo ladrão e se podia velar os entes queridos nas capelas dos cemitérios sem medo de assalto, a Estação Rodoviária era a porta de entrada para milhares. A outra era a avenida Farrapos. A atual fica do lado oposto. Foi no tempo em que o interior tinha poucas universidades, poucos hospitais equipados e poucas luzes como as da cidade grande, minha época nela foram os anos 1960.
O túnel e elevada da Conceição não existiam. Quando se embarcava no táxi, na avenida Júlio de Castilhos, um fiscal entregava um papelucho com um número para reclamações, o horário e o prefixo do carro. Era cena comum ver pessoas caminhando ao destino carregando pesadas malas. Táxi era caro.
Duas ou três bancas à guisa de lancherias, e deu. Quando eu saía para o interior, pedia uma salada de frutas, servida em um vidro grande maior que uma bombona de água mineral. A salada era quase só bananas, a fruta mais barata que existia. O dono era um armário mal humorado. Um dia cansei dessa vigarice. Cheguei no balcão e falei alto para todo mundo ouvir.
– Ô brocoió! Me serve uma salada de frutas de banana?
Saí de fininho. Muito novo para morrer.
Imagem: CanvaPró
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