Meu querido hospício

2 jun • NotasNenhum comentário em Meu querido hospício

Nos últimos tempos, tenho um sonho recorrente em que me vejo entrando em um prédio enorme em cuja entrada se lê Hospício Brasil. No sonho, vou entrando desconfiado e, com certa apreensão, vejo que o nome não está errado.

Por exemplo, o presidente da Casa elogiou o regime da Venezuela, aquele cujo presidente diz que fala com seu guru Hugo Chávez através de passarinhos.

O nosso dirigente maior – depois da mais alta corte, ´é claro – falou que a ditadura onde milhares, talvez dezenas de milhares, estão presos por não concordar com as ideias sinistras do seguidor do guru, o doutor Nicolás Maduro, era democracia.

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Como era sonho, deixei por isso mesmo. Mas, logo depois, vi em um telão que o nosso zelador vai nomear seu advogado particular para a mais alta corte do hospício. Ou melhor, do prédio Brasil.

Então fiquei deveras preocupado com os rumos da nossa república. Só que alguém me assoprou que mulheres de governadores nomeiam suas respectivas perpétuas para os Tribunais de Contas daquele ente federativo. Parece que todos eles disseram “que mal tem?”.

De fato. Que mal tem? Mesma frase que o imperador Calígula proferiu quando nomeou seu cavalo Incitatus para o Senado romano. Em sinal de aprovação, o cavalo relinchou, de forma clara, a mesma fala que as esposas dos governadores disseram.

https://cnabrasil.org.br/senar

Pelo menos ninguém poderia ter reclamado que Calígula maltratava animais. Ao contrário. Mais para o meio do hall de entrada do Hospício Brasil tive um sonho dentro do sonho.

Sonhei que, se não há mal em nomear para cargos públicos amigos do peito e parentes próximos, o passo seguinte seria nomear o Chef de Cousine como ministro de Ministério da Alimentação, pasta a ser criada. Afinal, tem tantos e um ou dois a mais. Que mal tem?

Cuesta abajo

Saí do prédio tremendo. Vou me divertir um pouco vendo um jogo de futebol de várzea. Mas, na bilheteria, me disseram que muitos jogadores estavam na gaveta.

Alguma coisa com loterias de apostas de resultados de futebol. Não entendi bem. Mas quando o bilheteiro esfregou o polegar com o indicador, esfregão universal que significa dinheiro, captei a mensagem. Ao entrar na arquibancada, um torcedor piscou o olho dizendo “Que mal tem?”.

Raios de pesadelo! Por mais que tentasse, não conseguia acordar. Fui até o subsolo e lá também vi representantes de instituições falando a mesma frase “Que mal tem?” 

Ao entrar no elevador, o ascensorista me perguntou se eu tinha crachá de corrupto. Fiquei sem jeito. Ele então falou que, desta vez, eu podia subir. Mas só desta vez.

Aqui todo mundo respeita a corrupção, disse ele. Embora a gente não goste do termo. Foi então que lembrei de um acontecido nos anos 1960.

A Justiça do Rio de Janeiro mandou prender um policial porque ele torturava os presos de uma forma muito cruel. Quando ele foi levado a juízo, deu a seguinte resposta.     

– Eu tenho que sobreviver, entende?

Então todos os corruptos e safados têm que sobreviver, entende?

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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