Rotuladores ideológicos

18 jul • NotasNenhum comentário em Rotuladores ideológicos

Nos tempos da hiperinflação, que veio aumentando até cessar no Plano Real de 1993, qualquer mercado ou supermercado valorizava muito a figura do rotulador. Como a correção dos preços era diária, os produtos expostos nas gôndolas tinham que ter o preço alterado, então eles entravam em ação.

Nos tempos pré-internet, uma engenhoca que tinha fitas adesivas com os preços de cada mercadoria passíveis de serem alterados na impressão, os rotuladores valiam na proporção da velocidade da operação de etiquetagem.

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Passam-se os anos e eles estão de volta. Além dos supermercados, surgiu, há alguns anos, o rotulador ideológico. Estes tipos – não vamos chamá-los de profissionais – colam em pessoas, partidos e governantes um rótulo que é usado pela falta de argumentação.

Fascista, nazista, são os mais comuns. E com seus diminutivos. Quem não está comigo é contra mim é o que aciona a maquineta, que tem um estoque de adesivos a perder de vista. 

Os rotuladores são mais encontrados na esquerda. Se você não aplaude o ídolo ou a ideologia dela é fascista.

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Mesmo objetos levam essa maldição dos sem-argumento. Por exemplo, Mercedes é de direita, carro 1.0 é de esquerda; eucalipto é de direita, figueira nativa é de esquerda; morar em bairro nobre, automaticamente é de direita segundo os caras da maquineta ideológica.

Dentre as especialidades desses caras está a de comparar um deles com outro que eles detestam mesmo que esteja fora de circulação ou até de intenção de voltar a concorrer. Lembra uma piada da Guerra Fria dos anos 1950 e 1960.

Um americano consegue, a duras penas, visto de turista e vai a Moscou. O guia soviético o leva para visitar o metrô de Moscou, uma obra-prima de arquitetura e decoração de interiores.

O americano ficou maravilhado, mas estranhou a ausência de gente nas estações. Ao ouvi-lo, o guia rebateu de bate-pronto.     

– Ah, é?! E vocês que matam negros nas ruas! 

Dois erros não fazem um acerto. Mas o comunista do metrô exibiu um ar triunfante. Tinha salvado o regime e o metrô sem gente.

A técnica da inversão

Outra anedota daqueles conturbados tempos falava sobre um hipotético tira-teima entre um atleta soviéticos e o inimigo capitalista mor, inimigo do povo, um americano. Consistia em uma corrida de 100 metros rasos entre os dois. Dada a largada em um país neutro, o americano venceu com folga.

O jornal Pravda publicou a seguinte manchete sobre a corrida: “Americano fica em penúltimo e o soviético em segundo.”

Tempos de cizânia

Todos os dias, convivo com essa cultura de desmoralizar A para louvar B, como se fosse possível comparar laranjas com bananas. Nas redes sociais, acredito que, mesmo nos grupos, os desaforos tomam conta. Mais que as afinidades, ou muito perto delas.

Já citei o jornalista Carlos Amaro Reinisch Coelho, que criou o Informe Especial do jornal Zero Hora, anos 1960. Dizia ele que, se você não tiver chance pelo menos 30% de mudar a opinião do oponente, não vale a pena discutir.

Quem se desgasta é quem insiste nessa briga inútil. Os medíocres são especialistas em buscar discussões nas quais você tem que descer ao nível deles. Então, nem entra nessa arena.

Entre sem pagar

Parceria entre o programa Mesa Brasil Sesc e o Shopping TOTAL vai unir solidariedade e momentos de lazer e cultura na campanha “Férias Solidárias”. Na semana entre os dias 17 e 21 de julho, quem fizer doação de alimentos na Loja Solidária do shopping vai ganhar ingressos para as salas de cinema da Cineflix, para assistir ao filme que quiser, em qualquer dia ou horário da semana ou final de semana, com exceção de feriados. Cada quilo de alimento valerá um ingresso, limitado a cinco por pessoa, que será válido até o dia 29 de agosto.

Bem a propósito

Nos anos 1950, o nosso Barão do Itararé, Aparício Torelly, volta e meia era preso e até espancado pela polícia do presidente Getúlio Vargas. Cansado de levar cate, o Barão colocou uma placa no seu apartamento com os dizeres “Entre sem bater”. Humorista mesmo debaixo do mau tempo.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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