Lambaris, bagres e pintados

27 jul • A Vida como ela foiNenhum comentário em Lambaris, bagres e pintados

O episódio de hoje é contado pelo leitor Gilberto Werner para o grupo Amigos do Moinhos de Vento.

Naquele tempo, nos sábados pela manhã, costumava buscar as minhocas na terra escura, macia, que havia no fundo da casa de lembranças no Moinhos de Vento. Então as ia catando uma a uma colocando-as na lata pequena com terra para que ficassem vivas por algum tempo.

Meu pai preparava o carro, um Austin A 10, inglês, com porta que abria, pesadamente para a frente do carro. Era um carro pequeno e médio, silencioso, que costumava ¨pegar¨ sempre nas manhãs de primavera. A viagem até o centro, pela avenida Independência era tranquila. Havia muito poucos carros nas ruas naquele tempo, notadamente aos sábados.

Chegávamos na av. Mauá e meu pai estacionava o carro preto logo na frente de algum armazém no Cais do Porto. Então começava realmente a pescaria. Os caniços, as linhas e os anzóis tudo previamente programado obedecia a costumeira ordem das coisas.

Sentávamos logo na beira do cais, geralmente perto de algum marco enorme, onde as cordas das âncoras do navios eram presas quando atracados. Meu pai colocava sua almofada de pesca e sentava em cima, eu era sobre a pedra mesmo. Não haviam muitos navios, eram mais as barcas que apareciam por lá. Todas tinham um nome pintado em sua ¨proa¨. Nomes dos rios que conhecia muito bem: eram Cai,  Taquari ,Jacuí.

Havia uma velha e grande barcaça amarela que às vezes via por lá: era a ¨Madrilena¨, com sua enorme e comprida chaminé a fumegar uma fumaça cinza, fraca e persistente. Havia roupas dependuradas nos varais improvisados em suas janelas. Diziam que um casal morava permanentemente em seu interior.

Assim que um lambari mordia a isca, a linha começava andar, às vezes rápida e às vezes em ziguezague, na água que refletia o sol. Assim eram os lambaris fisgados, dizia meu pai. Os pintados eram mais violentos e nadavam mais rápidamente, mas todos acabavam dependurados e balançavam nas linhas e na ponta dos caniços. Era uma festa, uma alegria só que eu tinha de fazer, substituindo as minhocas nos anzóis vazios.

Depois o sol começava a esquentar muito nas pedras do cais e com a cesta cheia de lambaris e pintados, alguns pequenos bagres, recolhíamos todos os caniços e anzóis, e o Austin Preto nos trazia novamente à rua quieta e pouco movimentada do morro Ricaldone.

Costumava, naquele tempo, sentar à tarde na frente da casa esperando o vento da primavera que geralmente soprava ao cair da noite.

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Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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