Grande amor, amor impossível
Em todos os amores que, por um motivo ou outro, não puderam ser efetivados, sempre surge como efeito colateral o amor eterno. Eterno como Romeu e Julieta, cujas famílias não queriam a união dos dois pombinhos alvoroçados.
O cinema e a literatura estão cheios de casos semelhantes, amores interrompidos com casamentos com outra pessoa que não a amada, mas ficou aquele sentimento de frustração, melancolia e saudade do que poderia ter sido. Ambos eram jovens e bonitos e pelo menos um dos dois chega à velhice suspirando pelo amor que perdera quando jovem.
Na cabeça dos enamorados, não existe idade, nem celulite, nem doença.
Todos nós já tivemos amor ou amores impossíveis porque não consumados.
Em toda a família ou entre amigos conhecemos casos assim, o suspiro eterno por aquilo que poderia ter sido. Nas relações sociais e profissionais e até nas políticas é a mesma coisa.
SE o candidato tal fosse eleito, o que teria sido do futuro do país? SE Noé não tivesse a arca, como ficariam os casais de animais que ele salvou, mesmo eufemisticamente? Se Napoleão não tivesse perdido em Waterloo. o que seria da Inglaterra?
A História é um conto cheio de som e fúria, narrada por um idiota significando nada, já disse o Bardo em Hamlet. Grande e suprema frase. Não há final feliz como nos filmes, e, por isso, gostamos tanto deles.
Às vezes a história perde a graça exatamente pela produção exigir um happy end. Mas vem outra pergunta: e SE os casos clássicos de amores impossíveis tivessem se tornado possíveis, como seriam esses casais na velhice? E os amores que se tornaram possíveis na literatura, como terminariam?
A inocência da bruxa
Vejamos Branca de Neve e os sete anões. Transportado para o presente, a bruxa que envenenou a maçã (transgênica modelo Gala) de Branca seria absolvida por falta de provas. O MP acusaria o produtor da maçã de usar agrotóxicos que até dispensavam veneno alheio. Os sete anões entrariam na Justiça do Trabalho acusando o Príncipe e dona Branca de trabalho escravo, não pagamento de horas extras e adicional noturno mais juros e correção.
O Príncipe teria arrumado uma amante e, com o tempo, perderia a bela. Ficaria careca, barrigudo e com uma verruga enorme no nariz.
A guampa do Príncipe
Branca de Neve ficaria suja de fuligem por limpar a casa e o fogão, peitos caídos até a cintura. Com outros sete filhos remelentos agarrados na sua saia pedindo Kinder ovo ou KitKat e um videogame da moda. Um deles pelo menos sairia da adolescência puxando fumo.
Na solidão do seu quarto, enquanto o príncipe enchia a cara de vinho barato e ficava com bafo de urubu depois de comer carniça, lamentaria os anos perdidos com aquele fiadamãe do marido imprestável. Ele não deveria ter tirado a maçã da sua boca, como no conto, e se isso não acontecesse lamentaria não ter pulado a cerca quando ainda era jovem e bonita. Aquele idiota merecia uma boa guampa.
Outros contos infantis com final feliz teriam final infeliz. A casa de concreto dos três porquinhos não resistiria a uma brisa. Nem precisava o lobo tentar derrubar porque fora comprada pelo Minha Casa Minha Vida. Sem falar no IPTU e ficar em bairro QG do crime. Agora pense no início de todos nós, Adão e Eva.
O amor de Adão antes de Eva
Antigos escritores judaicos dão conta que Adão teve outra mulher antes de Eva, Lilybeth, que foi por ele descartada. Então surgiu o causo da Eva, da serpente e da maçã.
Imaginem se ele ficasse com Lilybeth ou, Lisbeth conforme a tradução. Teria ela caído no golpe da serpente? E os filhos deles, seriam boas biscas ou gente fina?
Nunca saberemos. Certo é que os filhos de Adão e Eva, como querem os religiosos criacionistas, praticaram incesto para se multiplicar. Muito mais tarde, os faraós do Egito acharam a ideia muito boa. Deu no que deu.
Melhor deixar assim. Poderia ser tudo muito pior, pior do que já é.