Eu tenho um sonho
É um sonho profundamente enraizado no dia a dia da pessoa comum. Vejo todo mundo caminhando pelas ruas com dezenas de post-it grudados nas roupas dos homens e mulheres. Neste sonho vejo que neles estão escritos sequências de números, sinais gráficos e letras, porque simplesmente não se consegue decorá-los.
Uma pessoa comum tem em torno de 23 senhas para cartões ou acessos outros. Sem falar nos token, chaves eletrônicas. Esses, ou essas, gostam muito de brincar de esconde-esconde, tendo gnomos como cúmplices. Senhas razoavelmente seguras só depois de oito dígitos, de preferência com sinais, acentos, underline etc.
Existe o banco de senhas, ou gerenciamento de senhas. Você bota todas elas numa gaveta eletrônica que só abre com a senha master. Se alguém abre essa gaveta virtual você está ferrado.
Então, é melhor criar uma senha para abrir a senha das senhas. O perigo é o mesmo, porque, com ela, dá para acessar a senha das senhas das senhas e, adiante, a senha das senhas das senhas das senhas.
Melhor desistir e escrever tudo no velho e bom papel e guardá-lo em algum canto da casa, do local de trabalho ou do carro. Só que, com o tempo, você esquece onde deixou o maldito papelzinho com os números disfarçados porque decorou apenas o código de uso diário.
Então vai ter que “ressenhar” tudo. Isso leva à loucura, claro.
Eu tenho um sonho. Um sonho profundamente enraizado no meu horror às senhas: um mundo sem elas. Três milhões de anos para sair de cima das árvores, e a humanidade só sabe criar senhas.