Eu e o diabo

11 dez • A Vida como ela foiNenhum comentário em Eu e o diabo

Eu fui e voltei do inferno várias vezes nos meus tempos de adolescência. A Santa Madre dizia existir inferno com alto-forno igual ao do tio Jorge G.. Foguistas, diabinhos com tridentes espetando os pecadores em quando alguém derramava azeite fervente no lombo dos pecadores amarrados em espeto de churrasqueira positiva e operante.

As mães, especialmente, eram rigorosas na cobrança de ir à missa dominical e confessar antes de comungar. Não foi, não comia sobremesa de gelatina com creme de baunilha.

Era profundamente desagradável contar pecados ao padre escondido no escurinho do confessionário. E a penitência obrigatória era chatésima.

Lembrei dos tempos de adolescência quando éramos obrigados a confessar nossos pecados ao padre no confessionário pelo menos uma vez por semana. E nunca comungar antes dela. Hoje você acumula milhas, naquele tempo, pecados.  

Ao que eu me lembre, a maior penitência que recebi foi rezar 100 Padres Nossos e 100 Aves Marias. Puxa, mas esse padre não tem noção de tempo que se gasta?

Era como ser condenado a 50 anos de prisão em regime fechado sem direito à condicional. Ruim era escolher as palavras em vã tentativa de mascarar coisas do demo.

Havia os pecados veniais, os que não resultaram em inferno, e os mortais, que davam passagem só de ida para virar churrasco. Começava-se pelos primeiros, faltar à missa, desobedecer pais e mestres e dizer nomes “feios” tipo chamar alguém de fiadamãe. Depois vinha a carga pesada.

– Padre, fiz coisas feias.

– Com quem?

– Comigo mesmo.

– Quantas vezes desde a última confissão?

– Bem, digamos que…umas cinco, seis.

– Tem certeza que não foram mais?

Eu suava.  

– Pensando melhor, umas dez…doze, talvez quinze.

Mas o que esse intrometido queria? Não bastava eu confessar que fiz sexo solitário, e ainda quer saber quantas vezes? Depois do que os castelhanos chamavam de palmita de la mano, vinha o medo do inferno. Arre! Não bastasse a Matemática ainda vou virar torrada?

Pela ótica daquele tempo, acredito que ainda tenha pendências, tipo inadimplência no cartão de débito celestial. Imagino que nem a Serasa possa renegociar minha dúvida, mas quem sabe? Acho que Ele está passando muito trabalho com Vladimir Putin e o Hamas.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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