Entre o mar e o bar
A imagem de Tramandaí parece ser do início dos anos 1960 e fotografada a partir de Imbé. Conheço-a desde os anos 1950, mas como gente grande só nos 60.
Praia era a repetição de um ritual. Acordava-se cedo ou tarde, dependendo da festa na noite anterior, praia, esteira, guarda-sol, caipirinha, cerveja, areia levantada pela correria dos moleques nas dunas. Almoço perto das 13h ou 14h, sesta. À noite, uma banda no centro. Carteado em dias de chuva. Lugar comum: cueca virada, um bolinho frito retorcido salpicado com canela e açúcar.
A avenida Emancipação era centro, e o bar Willy o centrão. Casquinha de siri, chope, almoço só para ricos. O único garçom chamava-se Genaro, um gringo de voz rouca e pouca paciência com bebedores de um só chope. Vai tomar refresco com as criancinhas, reclamava, não tira lugar dos adultos. Boa parte dos veranistas vinha do Vale dos Sinos, Taquara, Campo Bom, Estância Velha, Novo Hamburgo. Os alemães do Vale do Rio Caí veraneavam em Mariluz, fundada por seu Omar Luz.
A alemoada era facilmente reconhecida. Branco Omo Total e vermelho-camarão frito no dia seguinte. Alemão novo rico morava em casa com janelas grandes mostrando o bar, para que todos soubessem como ele tinha dinheiro. Algumas casas tinham sanguinhas que ele chamava piscinas, sempre à vista de quem passava.
As meninas e as casadas dispostas a atravessar a linha do Equador lançavam furtivos olhares para os rapagões do Willy. Uma vez correspondido, os amassos ficavam no escurinho do cinema logo ali. Não existiam motéis. Para os finalmente, usava-se imaginação. Em último caso ia-se para as dunas, mas quase sempre entrava areia.
Entre o mar e o bar, esse era o conceito dos castos.
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