E segue o baile

9 nov • NotasNenhum comentário em E segue o baile

Falei cedo demais que a imprensa não tinha cometido (muitas) barbaridades sobre o acidente que matou a cantora Marília Mendonça. Ontem, saiu uma leva de bobagens, testemunhas dizendo isso e aquilo e tirando conclusões como se verdadeiras fossem. O avião caiu rodopiando, disse uma, como se a colisão com os cabos de energia tivesse sido depois.

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O King Air bateu nos cabos, que atingiram primeiro um motor, o que ocasionou perda de velocidade mínima para voar, chamado estol, e a inércia o fez rodopiar porque ele não tinha mais sustentação. Como registrei ontem, ele entrou baixo na reta final, então a perícia poderá – ou não – ver se houve perda de potência nos motores do turboélice.

O chão no ar

Sabem como os advogados criminais chamam as testemunhas? A prostituta de todas as provas. É comum testemunha de acidente de avião dizer que ele explodiu no ar antes de cair, quando é justamente o contrário (salvo bomba) por um engano do cérebro, que não consegue processar a informação, porque ela não é comum. Ele procura uma lógica para o que viu. Isso quando viu.

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Nenhuma surpresa

Nos comentários sobre a cantora e seu gênero musical nas redes sociais, a maioria diz que nem a conhecida, por que essa alaúde toda? ELE não a conhecia, mas ter 330 visualizações de um clipe só em 2020 mostra que ELE não é “todo mundo”. É como o cara que não acredita em pesquisa porque nunca foi entrevistado.

Culto à morbidez

Como de hábito quando morre alguém famoso, a televisão brasileira faz o finado(a) morrer por dias e até semanas. É o velório mais longo do mundo. Ouvem pessoas se dizentes amigas aos prantos e uma enfiada de lugares comuns. Na média, o telespectador brasileiro adora sofrer e ver o sofrimento dos outros. Ele é mórbido.

De última

Uma coisa eu não consigo aceitar. Quando os sites de jornais ou independentes mostram alguma cena do fato antes exibem um comercial. Acho que não é justo vender um produto ou serviço tendo um morto como garoto propaganda.

O segredo das séries

Filmes e séries de TV que se destacam sempre têm diálogos rápidos e inteligentes, a não ser que sejam conspiração do silêncio. Os ingleses são mestres nisso, humor sutil e corrosivo. É mais difícil para os alemães e sua língua gutural, piorado pelas enormes palavras compostas.

Já os americanos oferecem dois modelos, o das porradas e desmantelamento de carros entremeado com ” fuck” a torto e a direito. Inclusive saindo da boca de criancinhas. E os bons, com diálogos rápidos, perspicazes e misturados com humor e sarcasmo. Um bom exemplo é a série Prime Suspect, no canal F & A, no canal 516 da Sky.

É acima da média porque retrata a dureza insensível de uma Delegacia de Homicídios, policiais endurecidos pela repetição de tragédias que investigam. Às vezes se enfurecem com certos criminosos, como pedófilos e assassinos sádicos. No meio, disputa de beleza, rancor entre colegas e humor na medida certa com diálogos rápidos. Esses eu curto. Filme bom, no fundo, é aquele que tem o timming certo imprimido pelo diretor.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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