Do colarinho ao croquete

7 fev • A Vida como ela foiNenhum comentário em Do colarinho ao croquete

  No auge do reinado dos bar-chopes de Porto Alegre, cada um fazia questão de ter um prato ou sanduíche aberto diferenciado, para clientes atraídos pela propaganda boca a boca. Parte deixou saudades. E as papilas gustativas batem palmas dos anos 1960 até hoje. Naturalmente, que as ideias eram molhadas pelo chope tirado no capricho, sempre de barril novo e serpentina higienizada, com três dedos de espuma no máximo. Essa era a rotina, em especial para os clientes cativos, que ocupavam sempre a mesma mesa.

   Não dá para mapear todos, mas alguns eram mais especializados que outros. Maior parte tinha no sanduíche aberto sua maior atração. Especialmente os com lascas de  pernil de porco fatiado na hora – para não ressecar. Fora dessa unanimidade, tínhamos as almôndegas, também chamadas de bolinho de carne do Hubertus, (Dr. Flores esquina Otávio Rocha). Além do croquete crocante de peixe com molho remolado do Bob’s Bar (Cristóvão Colombo 36). Ou o bauru de três andares de pão de forma com queijo e lombinho de porco do Centro Esportivo (Benjamin Constant, perto da Cristóvão Colombo). Ah, e as coxas de rã à milanesa do Recreio Avenida (Franklin Delano Roosevelt), saboreadas debaixo de um carramanchão portentoso, para ficar só nestes.

    Alguns poucos capricharam no croquete de carne, não os construídos com sobras, mas feitos especialmente com esse fim. Os da Caverna do Ratão (Protásio Alves esquina Eça de Queiroz) eram sublimes, de comer ajoelhado. Os feitos com sobras eram chamados de croquetes Lavoisier (na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma). Apesar ou por causa de, alguns eram deliciosos. Detalhe: usava-se a boa e velha banha de porco, hoje reabilitada após ser queimada viva pelos profetas do colesterol.

    Nas comidinhas, o picadinho de carne com farofa do Stylo Bar (Independência esquina Garibaldi, hoje uma Panvel) deixou os fregueses de luto até hoje. Outros capricharam no picadinho Maria Luiza, tiras de carne com ovos, praticamente extinto. Os burguer e fast food são o CO2, efeito estufa que liquidou com comidinhas simples e gostosas. Os bar-chopes com suas especialidades foram assassinados por eles e pela falta de estacionamento. Lanches de entupir artéria de dinossauro vieram para ficar. Mereciam ter na entrada um monumento ao colesterol – estes sim!  –  e na saída outra para os triglicerídeos.

 https://www.brde.com.br/?utm_source=fernandoalbrecht.blog.br&utm_medium=banner&utm_campaign=BRDE%2060%20Anos

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »