Deus nunca foi brasileiro

26 out • NotasNenhum comentário em Deus nunca foi brasileiro

Entre outros tantos arroubos me engana que eu gosto gostamos de dizer que Deus é brasileiro, moda iniciada nos anos 1950. Ele nunca foi, ao contrário. Tem despejado sua ira, se é que ele decide essas coisas.

Nunca conseguimos manter estabilidade política, constitucional, econômica por mais de 10 anos, para começar. Sempre gostamos dessas invenções que nos colocam como o povo escolhido por Deus para liderar o mundo e deixar este país numa boa perpétua.

Ah, são os governos, dirão alguns. Os governos são representantes do povo, da sociedade, e se optaram por instalar ditaduras foi porque a sociedade era fraca. Hoje, vivemos uma espécie de ditadura perfeita, como se estivéssemos anestesiados.

Nos anos 1950, a moda era o sentimento antiamericano, como se os Estados Unidos fossem o diabo em pessoa. Algo que o Hamas e outros grupos terroristas usam como bandeira para desculpar o fracasso dos seus países de origem.

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O petróleo é nosso, outra bandeira levantada nos anos 1940 por um ótimo escritor, mas nacionalista exacerbado, Monteiro Lobato. Fazia parte da crença geral de podermos ser autossuficientes e desprezar o petróleo árabe, americano e africano. 

Passado todo esse tempo, até que produzimos uma quantidade razoável, mas temos que importar derivados como o diesel por falta de capacidade de refino. Quer dizer, aqui é tudo pela metade, incluindo a democracia, algo como meia gravidez.

Deus não joga, mas fiscaliza, repetia o comentarista esportivo gaúcho Mendes Ribeiro. Frase boa, mas inútil do ponto de vista de eficácia. A Copa do Mundo de 1958 levou os brasileiros ao delírio como se Ele próprio tivesse descido da cruz para moldar as pernas dos nossos craques, inclusive as pernas tortas de Garrincha.

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Então dizemos que o Brasil não tinha terremotos, furacões, tempestades de neve e vulcões. Ah é? E os acidentes climáticos do presente, furacões ciclones, enchentes o que são? Uma benção? E construímos uma usina nuclear em Angra dos Reis, único lugar onde comprovadamente tivemos um terremoto em milênios anteriores.

Sim, mas temos o Cristo Redentor que protege o Rio de Janeiro, certo? Estou vendo como protege. Os diversos Cristos erguidos em cidades gaúchas não seguraram as chuvas devastadoras, enchentes catastróficas e destruição de cidades, vidas e economia.

Talvez estejamos pedindo demais para Ele. Até porque não fazemos o dever de casa. Eis o problema. Recorro a um brocardo antigo, ajuda-te que Deus te ajudará. Nunca nos ajudamos.

Nunca fui fã de Leonel Brizola, sempre o achei meio gardelon. Mas reconheço que sua bandeira pela educação foi meritória, é um fator por nossa ignorância e imperfeição. 

Nos anos 1960, um senador chamado João Calmon percorreu o Brasil com o lema “Educação, vergonha nacional”. Iniciava e terminava seus discursos com ele.

Já lá se vão mais de 60 anos, e continua sendo uma vergonha nacional, e em versão piorada. Parece mentira que, nos anos 1940 e 1950, os colégios ensinavam mais e melhor, a começar pelas línguas. 

No ensino médio, o então curso ginasial, ensinavam francês, inglês e depois espanhol, além do Latim, língua morta, mas muito viva. Quem estudou Latim não erra concordância.

Então chegamos ao Padroeiro do Rio Grande do Sul, São Pedro, quando éramos a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Teoricamente, é esse o santo que abre e fecha as torneiras. Sim ele abre e fecha, mas nos momentos errados. Deve estar rindo da nossa cara, o velhote.

Cometemos diversas revoluções sangrentas, perdemos uma para meia dúzia de soldados imperiais e dela nos gabamos como se vitória fosse. A de 1893 foi uma selvageria, a degola campeava. Mas não vejo muita gente com vergonha desse assassinato em massa, pelo contrário.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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