Decifra-me ou te devoro
Assim falava a Esfinge da mitologia grega para os viajantes que por ela passavam. Se não respondesse, a figura com corpo de leão e cabeça de mulher devorava o infeliz. Sob outro aspecto, no tempo da Grécia antiga, o desejo dos homens era encontrar alguém que decifrasse os sonhos. De lá para cá, surgiram centenas de métodos desde examinar vísceras de animais até que o doutor Freud também deu seu pitaco.
Os pajés da aldeia
Tenho minhas dúvidas sobre a eficácia dessa pajelança. Para começar, já é difícil se não impossível entrar na cabeça de outra pessoa. Podem até catalogar, neurótico, esquizofrênico, bipolar etc. Mas entrar de verdade, não mesmo. No caso dos sonhos, existe a visão do que se sonhou, mas com tamanhas alterações e metamorfoses das imagens mesmo calcadas na vida real do sonhador.
Sonho meu
Um exemplo. Sonhei ontem que estava na avenida Ipiranga – chovia pra caramba – na frente de um posto de combustíveis. Até que apareceu a redação de um jornal em que nunca trabalhei. Uma antiga amiga arrastou a asa para meu lado e me abraçou com volúpia, no que foi correspondida. Na vida real, ela nunca me deu bola e nem mesmo eu a achava desejável. Então por que eu iria de borzeguins ao leito dela?
Mami não!
E não me venham com essa de ser minha mãe. Como disse Sigmund Freud, quando alguém o advertiu que o charuto que ele fumava era um símbolo fálico. Às vezes, um charuto é apenas um charuto.
Ouvi da Ipiranga
Na sequência, olhei para o Dilúvio que mostrava as marolas de uma enchente, só que ele corria ao contrário, da foz do Guaíba em direção à nascente. Para complicar, passou um caminhão tanque que espalhou esgoto na rua – aí já era a avenida Ipiranga de novo. É, sim, lembro de ter sentido o cheiro e caminhei com cuidado para evitar o líquido mal cheiroso. Recordo com nitidez que fiquei receoso que a sola do sapato do PÉ DIREITO estivesse furada.
Muito bem, os decifradores modernos de sonhos – os pajés remunerados da cabeça – traduzem o significado da água, da merda, da mulher que me abraçou, da chuva, do arroio ao contrário, tudo teria um significado preciso da vida real. Será mesmo?
Como o papel, a cabeça aceita qualquer coisa, mesmo o chute.
O caso do castelo aéreo
Tem uma história antiga de que gosto muito. Uma anedota que faz pensar. Os neuróticos IMAGINAM castelos no ar: os psicopatas ENXERGAM castelos no ar; os psicóticos MORAM nesses castelos. E os psiquiatras cobram aluguel.
Doutores, minha cabeça não paga aluguel.
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