De repente, 55 anos
Contados, e bem contatos, neste final de outubro estou completando 55 anos de jornalismo. Iniciados em outubro de 1968, na Zero Hora, quando a redação ficava na rua Sete de Setembro, e as oficinas na Luiz Afonso, Cidade Baixa.
Gloriosos tempos e gloriosas histórias, boa parte já contadas aqui. Naquele outubro, fez um frio medonho, fora de época, e como eu era muito magro o frio gelava o tutano dos ossos.
Eu entrava às 23h e ia até as 6. Às 7h da manhã rumava para a faculdade. Pela tarde, 13h, trabalhava no Banco da Província.
Como enfrentei o frio com galhardia e o venci foi uma lição de vida de um carrinheiro que ficava em frente ao prédio, o Sim Senhor. Qualquer coisa que se falasse, ele respondia Sim Senhor.
Vivia em mangas de camisa e perguntei como ele o suportava. Abri a camisa e vi que estava enrolado em papel jornal que pegava na redação.
Caiu a ficha. O papel é um ótimo isolante térmico. Ora, veja só como o Sim Senhor sobrevivia a zero grau.
Voltei para a redação, deserta a essa hora, tirei a roupa e me enrolei nos restos de uma bobina de papel jornal, que servia tanto para usar no banheiro como toalha de mão.
Vesti a roupa de volta e, em minutos, senti um calorzinho de primeira catchigoria, como dizia o motorista da viatura da ZH, Luizmar. Deitei numa mesa da redação, juntei sete ou oito jornais velhos à guisa de travesseiro e dormi o sono dos justos.
Em compensação, senti na pele como as múmias egípcias ficavam após serem enfaixadas.