Carnaval com brilho dos carnavalescos
No tempo em que Carnaval era uma festa em que brilhavam os carnavalescos como Clóvis Bornay (1916-2005) e Evandro de Castro Lima( 1920-1985), sempre achei graça nos nomes pomposos que eles davam às suas fantasias. No início era Louvor e Glória de Dom Pedro I, por exemplo, mas à medida que os dois levaram a rivalidade a extremos eles foram caprichando. Louvor e Glória passou a ter acréscimos do tipo “Louvor e Glória Ascensão Matutina do Sol Fulgurante de Sua Majestade Heroica Dom Pedro I”. Os nomes que a dupla escolhia eram mais longos que desfile de escola de samba. O jornalista Carlos Coelho sintetizou muito bem essas fantasias exuberantes.
– No fundo, é tudo pluma e paetê.
Pois olha, o Coelhinho até que tinha razão. Faltaram só as miçangas. Sempre achei que Bornay fosse militante de um partido de esquerda, porque falava com os erres carregados e tinha língua presa. Já o Evandro era de tradicional e aristocrática família baiana. Claro que a família não gostava dos modos do rapaz, então ele se homiziou em Buenos Aires, então Meca dos alegres rapazes da banda e acolhedora da turma do arco íris.
Pois não é que justo quando se deu a diáspora gay do Brasil assumiu o poder o ditador Juan Domingos Perón? E uma das suas metas era viver a Argentina livre de gays. Então, passou a persegui-los, logo quando o baiano tinha montado shows, ele como destaque, claro. Em entrevista ao jornal Última Hora do Rio de Janeiro, Evandro contou que tudo mudou da noite para o dia. Tiveram que voltar ao armário. Como ele disse ao jornal, quando eles se encontravam em bares, a cautela era essencial.
– Tínhamos que fazer gestos tão comedidos…
Para escapar dessa asfixia, ele e vários outros artistas deram com os costados em Porto Alegre, cidade que ele passou a amar. E aqui ficou por algum tempo dando shows no American Boite, na rua Voluntários da Pátria. Mas essa já é outra história, que conto amanhã.