Breve história da ganância

20 mar • NotasNenhum comentário em Breve história da ganância

Em primeiro lugar, e que fique bem claro, a Humanidade e seus atores sempre foram gananciosos. Mas  o que mudou foi a potência dela. Para ficar no Brasil, até meados dos anos 1970, a situação estava sob controle.

A ambição do mundo empresarial era crescer, crescer e juntar dinheiro para crescer mais. Evidentemente que, na hora do balanço, donos ou sócios ficavam com parte do lucro.

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Os bancos eram bem comportados nos juros. Eu lembro que, na segunda metade dos anos 1960, a taxa de juros – o juro real é bem maior que a taxa – era de 3% ao mês mais IOF para pessoas físicas. Desconto de duplicatas para pessoas jurídicas era menor.

Os diretores dos bancos não ganhavam fortunas como hoje. No Banco da Província do RS, onde trabalhei, os diretores tinham um carro do ano, belas mansões e viajavam para lugares charmosos como Buenos Aires, Mar Del Plata ou destinos europeus.

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O Nordeste não os atraía, pobre como era. No final do ano, parte do lucro era repartido entre eles, e quase sempre investiam em imóveis. Não existiam as mais de 30 aplicações financeiras como hoje.

O tempo foi passando e, no início dos anos 1990, os banqueiros já não se contentaram em dezenas de milhões, passaram a querer centenas de milhões. Da mesma forma, as sobras ou gratificações dos donos de fábricas ou comerciantes eram aplicadas no mercado financeiro. Banco ou financeira eram tão bons que empresários passaram a investir neste negócio.

A essa altura, já se falava não em Reais, mas em Dólares. À parte, a bolsa criava fortunas da noite para o dia. E derretia fortunas, também da noite para o dia. Surgiu então uma realidade curiosa: a fronteira entre ganhos financeiros, indústria e comércio baixou a cerca.

Em vez de dezenas de milhões de Reais, a escalada passou para centenas de milhões. E o Real virou Dólar, tipo 1 bilhão ou mais de Dólares. O que sustentava todo esse dinheiro não advindo de atividade econômica era a confiança no sistema.

O resto vocês sabem. Nenhum bilionário diz “chega!”. Perdeu-se o controle e o pudor.

Para ilustrar conto um causo como o causo foi. Nos anos 1970, empreiteiros de obras públicas de São Paulo davam uma cesta de Natal para que lançassem cópias xerox de editais de licitação de obras públicas alcançadas por algumas secretárias.

Então veio o tempo dos 10%. Que em, poucas décadas, foram subindo até chegar a 30%, 40% ou mais de propina, como verificado na Lava Jato, felizmente dissolvida.

Os políticos passaram a focar menos no bem da sociedade e mais em  cargos públicos com polpudas verbas, onde o “ponto” era bom. Larápios de toda ordem foram absolvidos ou soltos. 

Para encurtar, não será o socialismo a terminar com o capitalismo. Até porque de onde ele tiraria dinheiro? Não, quem vai destruir o capitalismo será o capitalismo selvagem. Mas podem chamá-lo de ganância desenfreada.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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