Boia fria

5 maio • NotasNenhum comentário em Boia fria

Eu devo estar com algum distúrbio geográfico. Leio os pratos novos e velhos de restaurantes, novidades gastronômicas e outras que tais nos jornais e programas de TV penso estar enganado, não moro em Porto Alegre, Brasil, mas na Suíça ou França, Paris. 

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Vejo fotos de pratos sofisticados e de preço que só alguém com renda alta pode pagar. Misturam molhos e criam as tais emulsões, tipo baba de sapo, botando alevinos em planta aquática, misturebas que até Deus duvida, experimentos cada vez mais fora não só do alcance do bolso do mortal comum, mas do paladar também.

Medo do fogo

Também registro que, na ânsia de ser diferente, pregam heresias como carne de cordeiro malpassada, até galinha ou outras aves que tenham penas sofrem de raquitismo de cozimento. Peguem o caderno Destemperados de Zero Hora e terão uma noção do que digo. Folheio e vejo pratos de 70, 100 ou mais reais em porções “onde estás que não te vejo”. Às vezes, com estranhos ingredientes. 

https://cnabrasil.org.br/senar

Mesmo as comidinhas de rua, que nos Estados Unidos tem programas de TV específicos, surgem de vez em quando no pé de alguma página como a dizer “Isso é comida de pobre, mas não posso falar”.

O Chef que caiu na real

Já contei aqui o caso de um Chef italiano que a RBS trouxe há cerca de 20 anos para um evento em que massas seriam estrelas  Depois de conhecer alguns restaurantes especializados, ele falou que Porto Alegre era a única cidade do mundo onde se pagava 20,00 por um prato de massa. Pois piorou.

Até mesmo os honestos restaurantes de cidades do Interior agora partiram para a sofisticação. Na Capital, tem muito gato por lebre. Casas de carnes cobram os tubos – tem algumas que você começa com 200 reais por pessoa mais bebida. E não são tão boas assim como se deduz do preço cobrado.

Penso que deveríamos fazer um caderno ou programa de TV não só com comidinhas de rua, mas – vou ser radical de centro – concurso para escolher o melhor PF cotejando a relação custo-qualidade. Porque esses pratos sofisticados não entram em bairros menos votados. Quantas vezes por mês o distinto leitor da classe média – o que sobrou dela – pode frequentar restaurantes com tíquete médio de 200 reais?

Comidinha de garçom

Quando trabalhei com Salimen Júnior na agência Publivar, na rua Senhor dos Passos, o almoço eventualmente podia ser no restaurante do Alfred Hotel, vizinho próximo. Um dia, encontramos o dono do hotel, o Zé Sehbe, que também era sócio do turco. Sentamos na mesa de janela, vista ótima, e pegamos o cardápio.

O Zé chamou o Chef e pediu “comidinha de garçom”. Estranhei até ver o prato que chegou: arroz, feijão, bife, ovo e salada. O PF que o vileiro pode pagar. Maravilha. Virei fã de comidinha dos caras da bandeja.

O melhor e mais nutritivo

Outra história. Em 1974, quando trabalhei na Folha da Manhã da antiga Caldas Júnior, uma pesquisa alimentar realizada pelo IBGE concluiu que em valor nutricional o então “completo” era perfeito. Verde e vermelho, proteína, carboidratos, tudo que o organismo precisava. É barato. Os pratos analisados foram os de Viamão, na época cidade com povo de baixo poder aquisitivo. O pobre comia mais saúde que o rico.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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