Bailes de outros tempos
Nos tempos em que eu frequentava bailes, aos quinze anos*, lá em São Borja, num desses bailes eu estava com uns amiguinhos – todos nessa odiosa faixa etária. E uma bela e arrogante moça de uns dezenove anos, esnobava todo mundo.
Apostei que eu iria tirá-la pra dançar. Apostamos cervejas, claro.
Fui em direção a ela, na mesa com os tios e falei:
– Dança comigo?
– Eu não danço com criança!
– Ah, desculpa, eu não sabia que a senhora estava grávida!
A galera delirou!
Quase apanhei dos tios dela. Mas tomei cerveja a noite inteira por conta dos malucos!
Bons e velhos tempos!
*Naqueles tempos podia.
Bailes da Reitoria
A moda para poucos nos anos 1950 e 1960 eram os bailes da Reitoria (da UFRGS). Exigia fatiota, gravata de acordo, o caro calçado Clark, no mínimo. E um par de beiços capazes de escoar frases que os ouvidos da garota apreciavam. Quem era tímido na troca ou era ruim de pé já entrava devendo.
Tira o politicamente correto e a hipocrisia: garotas procuravam marido com profissões glamourosas e lucrativas. Futuros médicos preenchiam os dois requisitos. Como em um almoço, havia a entrada, prato principal (com carne…), sobremesa. A entrada não mudava muito.
– Como é teu nome?
Era o alface. Depois vinham duas rodelas de tomate.
– Qual faculdade, o que estudas?
Um pouco de vinagre.
– De onde és?
Para que o prato principal viesse à mesa, ela faria as mesmas perguntas. Se você cursasse Medicina, filé mignon, havia encaixe de corpos. Tipo acoplamento da Soyuz. Fechava a rosca de vez em outro lugar.
Se o seu caso fosse odontologia, estrogonofe; arquitetura, peito de frango; engenharia, coxa e sobrecoxa: jornalismo, guisado de coxão duro com milho.
Se você tivesse carro, mesmo emprestado pelo papá, podia ser pipoqueiro, que sempre rolava pelo menos um amasso.
Imagem: CanvaPró