Bailes de outros tempos

17 jan • A Vida como ela foiNenhum comentário em Bailes de outros tempos

Contada pelo pândego Paulo Motta

Nos tempos em que eu frequentava bailes, aos quinze anos*, lá em São Borja, num desses bailes eu estava com uns amiguinhos – todos nessa odiosa faixa etária. E uma bela e arrogante moça de uns dezenove anos, esnobava todo mundo.

Apostei que eu iria tirá-la pra dançar. Apostamos cervejas, claro.

Fui em direção a ela, na mesa com os tios e falei:

– Dança comigo?

– Eu não danço com criança!

– Ah, desculpa, eu não sabia que a senhora estava grávida!

A galera delirou!

Quase apanhei dos tios dela. Mas tomei cerveja a noite inteira por conta dos malucos!

Bons e velhos tempos!

*Naqueles tempos podia.

Bailes da Reitoria

A moda para poucos nos anos 1950 e 1960 eram os bailes da Reitoria (da UFRGS). Exigia fatiota, gravata de acordo, o caro calçado Clark, no mínimo. E um par de beiços capazes de escoar frases que os ouvidos da garota apreciavam. Quem era tímido na troca ou era ruim de pé já entrava devendo.

Tira o politicamente correto e a hipocrisia: garotas procuravam marido com profissões glamourosas e lucrativas. Futuros médicos preenchiam os dois requisitos. Como em um almoço, havia a entrada, prato principal (com carne…), sobremesa. A entrada não mudava muito.

– Como é teu nome?

Era o alface. Depois vinham duas rodelas de tomate.

 – Qual faculdade, o que estudas?

Um pouco de vinagre.

– De onde és?

Para que o prato principal viesse à mesa, ela faria as mesmas perguntas. Se você cursasse Medicina, filé mignon, havia encaixe  de corpos. Tipo acoplamento da Soyuz. Fechava a rosca de vez em outro lugar.

Se o seu caso fosse odontologia, estrogonofe; arquitetura, peito de frango; engenharia, coxa e sobrecoxa: jornalismo, guisado de coxão duro com milho.

Se você tivesse carro, mesmo emprestado pelo papá, podia ser pipoqueiro, que sempre rolava pelo menos um amasso.

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Imagem: CanvaPró

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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