As bolas de lauda

25 mar • A Vida como ela foiNenhum comentário em As bolas de lauda

Antes de as redações ficarem mais silenciosas que conventos de Irmãs Carmelitas, o matraquear das máquinas de escrever enchia o ar com estranhos sons. Como no mar, as ondas metálicas vinham e iam deixando alguns poucos segundos de silêncio. Mais clara ao final da tarde e início da noite, o ruído das máquinas parecia uma sinfonia do absurdo. Como eu gostava dela, devo confessar.

Em um determinado momento, sem que alguém comandasse, acontecia uma combustão espontânea. Alguém amassava laudas, papel para escrever nas máquinas, e as transformava em bolas pequenas de basquete amarradas com barbante ou coladas com fita durex. Cesta de lixo virava cesta de basquete. Quando a redação esvaziava, era a vez das peladas com as mesmas bolas de lauda.

Também fazíamos pegadinhas. Em 1972, quando era editor de Economia na área de mercado de capitais na ZH, havia um faxineiro particularmente irritante. Reclamava do excesso de papel, imagina. Então prendíamos com barbante a mesma bola no fundo da cesta de arame trançado. Quando ele a pegava, vinha tudo junto.

E ele caía sempre.

www.brde.com.br

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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