As bolas de lauda
Antes de as redações ficarem mais silenciosas que conventos de Irmãs Carmelitas, o matraquear das máquinas de escrever enchia o ar com estranhos sons. Como no mar, as ondas metálicas vinham e iam deixando alguns poucos segundos de silêncio. Mais clara ao final da tarde e início da noite, o ruído das máquinas parecia uma sinfonia do absurdo. Como eu gostava dela, devo confessar.
Em um determinado momento, sem que alguém comandasse, acontecia uma combustão espontânea. Alguém amassava laudas, papel para escrever nas máquinas, e as transformava em bolas pequenas de basquete amarradas com barbante ou coladas com fita durex. Cesta de lixo virava cesta de basquete. Quando a redação esvaziava, era a vez das peladas com as mesmas bolas de lauda.
Também fazíamos pegadinhas. Em 1972, quando era editor de Economia na área de mercado de capitais na ZH, havia um faxineiro particularmente irritante. Reclamava do excesso de papel, imagina. Então prendíamos com barbante a mesma bola no fundo da cesta de arame trançado. Quando ele a pegava, vinha tudo junto.
E ele caía sempre.
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