Aí que preguiça
O falecido professor Joaquim Felizardo costumava dizer que de monotonia o Brasil não morre. Pois estou revendo essa máxima em que tanto acreditei. O Brasil é país mais monótono do mundo. Desde a Proclamação da República, nascida de um golpe de Estado, vivemos de golpes, um atrás do outro. Não temos jeito.
O cocô eterno
Ao longo do século XX foi uma monotonia só. Mudavam as moscas, mas o cocô era o mesmo. Sobressaltos, planos econômicos em série, trocamos seis vezes de moeda, corrupção no atacado e varejo, doenças anabolizadas pela mídia – a função do jornal é alarmar o povo – é sempre mais do mesmo.
Quem matou a surpresa?
A TV brasileira fez novelas usando os mesmos arquétipos, o trauma, a separação, a injustiça, a volta por cima, essas coisas assim tão banais em que só trocam os figurinos, as épocas e os atores.
Exceções poucas, citaria Beto Rockfeller, Saramandaia, apenas boas histórias contadas de forma bem humorada. Depois vieram com esse apelo de abordar problemas sociais. Termina a novela, os problemas sociais seguem na mesma.
O Brasil é uma novela repetida.
Pandemia, essa chatice
Querem coisa mais chata que o coronavírus? E sempre tem uma coisa, vacinas, discórdia, a ciência tateia, e as farmacêuticas enchem o fiofó de dinheiro.
Se tem tanta crise é porque deve ser um bom negócio, como disse Jô Soares.
Barba
Entre as chatices masculinas, tem coisa mais monótona do que fazer a barba todos os dias?
Politicamente
E para estreitar ainda mais nossa incapacidade de contar histórias, veio o abominável politicamente correto. Chega um ponto em que a rotina é tão torturante que pedimos que aconteça alguma coisa diferente.
Se for para melhor, ótimo. Se for para pior, pelo menos é uma novidade.
Twitter?
Já existia, mudou só o canal. Era chamado de mosquitinho.
Frases curtas escritas em laudas de papel (laudas) carbono. Dava para botar umas 30 numa lauda, vezes 6=180. Depois era só pegar a tesoura, recortar e distribuir a quem interessasse.
E-mail?
Já existia. Eram textos maiores multiplicados por cópias obtidas por um aparelho chamado mimeógrafo que exigia álcool. Era distribuído em forma de cartas. Antecessor do xerox e hoje do compartilhamento, no Face.
SMS?
Mesma coisa que o Twiter.
Dava mais trabalho? Sim, mas não precisávamos conferir o celular a toda hora.