A tristeza
Idos de 1990. Houve um evento qualquer em Canela e me hospedei no Hotel Laje de Pedra, à beira do Vale do Quilombo e que será um tremendo condomínio horizontal de luxo.
Pois bem. Estávamos eu e outros jornalistas no bar esperando o jantar e jogando conversa fora. Era sexta-feira. Por isso, trocamos a mesma ideia de como era bom o dia que antecede o final de semana.
– Já acordo sorrindo – disse um colega.
– Pois eu já me sinto bem antes mesmo de acordar – falou um repórter.
– Não posso discordar de vocês – falei eu.
E assim fomos tecendo loas ao dia em que, segundo a Bíblia, Deus criou o homem. De repente, um sujeito que estava sentado em mesa próxima se aproximou de nós. Reconheci-o de vista, era filho de um milionário gaúcho.
– Com licença? Eu fiquei ouvindo a conversa de vocês e me deu uma enorme tristeza.
Falei que algo muito ruim deveria ter acontecido para ele nesse dia. Ele fez “não com a cabeça”
– Mais que isso, eu sinto inveja de vocês. Eu nunca trabalhei na minha vida. Então, não sei que sentimento de alegria vocês têm nas sextas. Quisera eu poder sentir o mesmo.
Baixou a cabeça. Só faltou chorar.