A tosse do doutor

9 out • A Vida como ela foiNenhum comentário em A tosse do doutor

O lançamento do filme sobre a vida e obra do flautista Plauto Cruz, conhecido como o Plauto da Flauta, a quem eu chamava Flauto da Plauta, remeteu-me ao Adelaide’s Bar. Templo da seresta na rua Marechal Floriano na segunda metade dos anos 1960.

Na Mesa 1 davam canja, entre outras sumidades musicais, ele, Lupicínio Rodrigues, Marino do sax, Gervásio do violão 7 cordas, o cantor Johnson, o violonista Mário Barros e Clio Paulo, o Clio do Cavaquinho. Com este eu tinha uma amizade perene, até sua morte.

Clio era diabético, e quando a seresta perdeu público, Clio se foi junto. Mas sem perder o bom humor.

Certa vez nos encontramos no paradouro na BR-116 quando ele contou a história do seu fiel violinista. Clio se queixava da vida, e o parceiro explodiu.

– Para com isso! Tiveste dinheiro, foste dono de boate, vários discos gravados enquanto eu só aparecia na contracapa. Nem consegui realizar meu sonho, de viajar para o exterior, puxa vida!

Compungido, Clio quis saber qual o país que ele queria conhecer.

– Libres.

– Como é que é?

– Tá surdo? Eu falei Libres!

No dia seguinte, foram de Trem Húngaro para Uruguaiana, pegaram um táxi para a cidade argentina, tomaram um porre federal e, na manhã seguinte, voltaram de trem para Porto Alegre. O 7 cordas contava para todo mundo que conhecia o exterior e isso o deixava muito feliz.

Memória puxa memória. Acho que foi mais ou menos nesta época que conversei com o alegretense Luiz Odilon Pereira Rodrigues, que estava alinhavando seu livro “Entrevero de Causos”, naturalmente todos da querida cidade. Deu-me em avant premiere a história de um antigo médico que escreveu no atestado de óbito de um amigo e paciente que ele havia falecido de “tosse”. Achou que carecia de mais detalhes, então colocou um adendo.

– “Tosse. Mas uma baita tosse!

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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