A tosse do doutor
O lançamento do filme sobre a vida e obra do flautista Plauto Cruz, conhecido como o Plauto da Flauta, a quem eu chamava Flauto da Plauta, remeteu-me ao Adelaide’s Bar. Templo da seresta na rua Marechal Floriano na segunda metade dos anos 1960.
Na Mesa 1 davam canja, entre outras sumidades musicais, ele, Lupicínio Rodrigues, Marino do sax, Gervásio do violão 7 cordas, o cantor Johnson, o violonista Mário Barros e Clio Paulo, o Clio do Cavaquinho. Com este eu tinha uma amizade perene, até sua morte.
Clio era diabético, e quando a seresta perdeu público, Clio se foi junto. Mas sem perder o bom humor.
Certa vez nos encontramos no paradouro na BR-116 quando ele contou a história do seu fiel violinista. Clio se queixava da vida, e o parceiro explodiu.
– Para com isso! Tiveste dinheiro, foste dono de boate, vários discos gravados enquanto eu só aparecia na contracapa. Nem consegui realizar meu sonho, de viajar para o exterior, puxa vida!
Compungido, Clio quis saber qual o país que ele queria conhecer.
– Libres.
– Como é que é?
– Tá surdo? Eu falei Libres!
No dia seguinte, foram de Trem Húngaro para Uruguaiana, pegaram um táxi para a cidade argentina, tomaram um porre federal e, na manhã seguinte, voltaram de trem para Porto Alegre. O 7 cordas contava para todo mundo que conhecia o exterior e isso o deixava muito feliz.
Memória puxa memória. Acho que foi mais ou menos nesta época que conversei com o alegretense Luiz Odilon Pereira Rodrigues, que estava alinhavando seu livro “Entrevero de Causos”, naturalmente todos da querida cidade. Deu-me em avant premiere a história de um antigo médico que escreveu no atestado de óbito de um amigo e paciente que ele havia falecido de “tosse”. Achou que carecia de mais detalhes, então colocou um adendo.
– “Tosse. Mas uma baita tosse!