A prisão do delegado
Encontrei um velho amigo e falamos dos velhos tempos dos bar-chopes de Porto Alegre, mortos pela falta de estacionamento e pela correria da vida moderna. Eram tempos de pachorra. Falamos do Box 21, no antigo Hortomercado da Quintino Bocaiúva, a metros da Cristóvão Colombo/Benjamin Constant. Fui muito lá, e há nem tanto tempo assim, coisa de 15 anos. O forte era o pastel da casa, supimpa.
Falamos dos donos, um dos quais o Bentinho Silveira, hoje morador de Portugal. Certa vez, fui lá com o saudoso jornalista Adão Oliveira, o Adãozinho Só Sucesso, que cobria Brasília para o Jornal do Comércio. Chegou o garçom, e o Adão pediu meia dúzia. Achei um exagero, afinal não eram pequenos. Assim que o garçom anotou o pedido, Adãozinho esclareceu.
– Mas sem recheio.
– Como é que ė?
– O senhor ouviu. Sem recheio.
Bueno, cada um no seu cada qual. Ele devorou seis cascas de pastel. Na hora da conta, perguntou ao cara da bandeja se não dariam desconto, afinal eles estavam ocos. O garçom ficou indignado. Até hoje fico na dúvida se o Adãozinho estava ou não falando sério.
Entre tantos outros fregueses assíduos figurava um delegado de Polícia. Como ele trabalhava em serviço burocrático e nunca prendeu ninguém, a turma o apelidou de Delegado Prisão de Ventre. A única que efetuou.