A noite dos ventos uivantes
Um dos medos da minha adolescência foi o cinema. Filmes de terror não chegavam nem perto desses filmes de cirurgia sem anestesia, mas como era uma sensação nova, até filme de terror muquirana me deixava apavorado.
Lembro do Monstro do Ártico, filme preto e branco que teve refilmagem. Mas na época, anos 1950, aquele ser disforme, que só apareceu no final deixava de cabelos em pé.
Foi então que descobri que o terror não mostrado podia ser pior que o mostrado. Como Os Inocentes, que me deixou na posição se olhar só com olho o outro tapado. E nem se passava nas sombras da noites, era de dia mesmo. E adaptação do livro A Outra Volta do Parafuso.
Em matéria de terror explícito, Drácula me pegou pelo cangote. Mas o primeiro doeu. Eu orava a Álvaro Chaves e o cinema era o Orpheu.
Pior, segunda sessão, noite de ventos uivantes e ninguém nas ruas.
Rapaz, você não tem ideia do que foi sair da rua Benjamin Constant e caminhar sete quadras nestas circunstâncias. Qualquer barulho de papelão ou lata arrastado pelo vento na rua parecia que dois dentes e uma boca sedenta está a centímetros da minha nuca.
Quando finalmente cheguei em casa, nunca um cobertor cobrindo minha cabeça foi tão bem-vindo.