A nacionalidade do bacalhau
Em um desses sábados, estávamos lá quando se aproximou o Zezinho, veterano garçom do Gambrinus. Zezinho se intitula o Último Samurai. Bageense de Hulha Negra, baixinho, mistura de raças, um pouco de bugre, cabelo preto como as asas da graúna grisalha, sempre vem com uma. Nas mãos trazia o que eu chamo de vianda, que entregou para o Nestor. E foi logo advertindo do conteúdo – contchiúdo, como se diz na Fronteira.
– O bacalhau é nacional, mas a batata é inglesa.
Fala sério como um sacristão da Catedral de Canterbury. Devolvo dizendo que o stent que o cardiologista Fernando Lucchese colocou nele era na realidade uma mola do caminhão Mercedes 1313 para aguentar o tranco. Ele ri. Quando almoço no Gambrinus, o dito cujo sempre me traz pão e manteiga.
– Zezinho, eu já te falei que não quero pão.
Ele fez uma cara de decepção.
– Mas tu gostavas tanto de pão!
Diz a mesma coisa para outros clientes e outros pedidos não pedidos.
– Mas tu gostavas tanto de arroz!
O sacana. Cerca de um cafezinho e meio depois, passou na nossa frente um negro alto, carregando nos ombros uma grande caixa de papelão em cujas laterais lia-se em letras grandes “Jontex”.
Ao vê-lo, Nestor bateu uma estrondosa salva de palmas, chamando a atenção das pessoas nas mesas do lado.
– Esse é o cara!
Todos começaram a rir. No início, o carregador de preservativos não captou a mensagem, mas quando se deu conta do motivo das palmas dava gosto de ver sua alegria em desfile.
Como eu disse, sábados de manhã todos são mais felizes.