A nacionalidade do bacalhau

22 nov • A Vida como ela foiNenhum comentário em A nacionalidade do bacalhau

     Aos sábados de manhã, todo mundo está mais feliz ou menos triste. Todos são cordiais aos sábados de manhã. Eu e um grupo de amigos íamos sempre no Café do Mercado (Público). Nestor, Pacheco, Rogério e vários outros gostávamos de sentar nas mesas do lado de fora para jogar conversa fora e ver a humanidade desfilando.

     Em um desses sábados, estávamos lá quando se aproximou o Zezinho, veterano garçom do Gambrinus. Zezinho se intitula o Último Samurai. Bageense de Hulha Negra, baixinho, mistura de raças, um pouco de bugre, cabelo preto como as asas da graúna grisalha, sempre vem com uma. Nas mãos trazia o que eu chamo de vianda, que entregou para o Nestor. E foi logo advertindo do conteúdo – contchiúdo, como se diz na Fronteira.

          – O bacalhau é nacional, mas a batata é inglesa.

Fala sério como um sacristão da Catedral de Canterbury. Devolvo dizendo que o stent que o cardiologista Fernando Lucchese colocou nele era na realidade uma mola do caminhão Mercedes 1313 para aguentar o tranco. Ele ri. Quando almoço no Gambrinus, o dito cujo sempre me traz pão e manteiga.

          – Zezinho, eu já te falei que não quero pão.

Ele fez uma cara de decepção.

           – Mas tu gostavas tanto de pão!

 Diz a mesma coisa para outros clientes e outros pedidos não pedidos.

           – Mas tu gostavas tanto de arroz!

 O sacana. Cerca de um cafezinho e meio depois, passou na nossa frente um negro alto, carregando nos ombros uma grande caixa de papelão em cujas laterais lia-se em letras grandes “Jontex”.

    Ao vê-lo, Nestor bateu uma estrondosa salva de palmas, chamando a atenção das pessoas nas mesas do lado.

          – Esse é o cara!

Todos começaram a rir. No início, o carregador de preservativos não captou a mensagem, mas quando se deu conta do motivo das palmas dava gosto de ver sua alegria em desfile.

    Como eu disse, sábados de manhã todos são mais felizes.

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Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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