A fantástica fábrica de notícias
Crianças, a mídia funciona como o chocolate. Grandes barras ou lingotes saem da Garoto ou da Nestlé e chegam nas fábricas de chocolate artesanal para que cada uma se transforme em produto local. Umas botam caju, amendoim, outras nozes, passas, leite condensado ou outro ingrediente. Desta forma, a informação-chocolate que veio das agências vai se modificando.
Efeito Lavoisier
As diversas plataformas, principalmente os impressos, se abastecem das mesmas fontes, as agências de notícias. Geralmente ligadas aos jornalões quando o assunto é Brasil. O lingote então é “derretido”, e as informações saem em pequenas barras, algumas com comentários ou repercussão local. Os amendoins, nozes e leite condensado.
Quando o veículo tem bala na agulha, de cozinha tudo que é texto original serve apenas como notícia-base. Quando não tem tu, vai tu mesmo. Que é a regra, especialmente agora. Com o enxugamento das redações, especialmente com a demissão dos melhores, por isso com salário maior, é comum ter só ter casca de amendoim.
Agora vem um vício bem brasileiro: os lingotes das agências só ganham peso com a matéria-prima que se chama governo. Em feriados ou finais de semana, o governo folga, e as informações dele também. O que fazem as fábricas de notícias artesanais? Relembram a semana que passou com notícias que vieram do… governo. Sem o governo, só coisitas regionais.
Efeito Casa Grande
Está é uma outra coisa em nossa. Tudo que sai nos jornalões é repetido pelos jornais locais, quase como obrigação. Saiu no O Globo, no Estadão ou Folha SP entre outros, é Bíblia. E como tal o texto sagrado deve ser respeitosamente transmitido.
Por que os jornais de antigamente eram mais ricos em informações nacionais? Porque mantinham sucursais ou correspondentes nas principais capitais, que colhiam as barras de chocolate locais. E, com elas, alimentavam a matriz.
Na década de 1970 dizíamos – acho que o autor foi Millôr Fernandes – que não existe coisa mais velha do que o jornal de ontem. Mercê dos tempos, não existe coisa mais velha do que o jornal de hoje.
Há vagas
É de matar a constatação da Associação Brasileira das Indústrias de Software (Assespro) que o setor tem 100 mil vagas abertas, mas não há gente capacitada para preenchê-las. Mesmo em áreas como marcenaria, eletricidade e técnicos diversos. Esses que você chama em casa ou no trabalho.
Também faltam bons jornalistas, esses que escrevem o que você lê em casa ou no trabalho.
O outro lado