A.C – D.C (final)
A partir dos anos 1990, as boates e danceterias de Porto Alegre começaram a mudar completamente de perfil. Os jovens e não os menos jovens passaram a curtir e dançar nestes espaços. Um fato que até hoje ninguém abordou com profundidade foi a crescente presença das meninas, inclusive não necessariamente acompanhadas de namorados. Geralmente, vinham com uma amiga do peito ou em grupo, e não mais ficavam passivas esperando o bote dos homens. Começaram a tomar a iniciativa.
Em síntese, os códigos velados que no passado as mulheres emitiam e que nem sempre conseguiam ser decifrados pelo alvo colimado passaram a ser explícitos. Chega de intermediários, eu vou à caça. Não por coincidência foi também a época em que as mulheres faziam públicas suas rebeldias contra ser objeto. E também diplomas legais e formais enquadrando o assédio ganharam as ruas e a mídia.
Comparo essa fatia da história contemporânea com a revolução sexual do final dos anos 1960, Woodstock, minissaias ousadas, sexo & drogas e rock and rol. E essas atitudes de parte das mulheres começaram a assustar os homens acostumados a ganhar no grito e na marra. Broxaram, por assim dizer.
Uma outra revolução surgiu paralelamente na década de 1990: o celular, o celular que fotogravava tudo a caminho da internet. Você destruía uma reputação – e ainda destrói – com um clique ou com um vídeo postado na web. Quem caiu de banda foram os homens mais maduros, que tinham no escurinho das boates a proteção para pular a cerca. Então este público foi diminuindo, e como este público é que tem dinheiro, as boates foram sumindo por falta de fluxo de caixa.
Assim foi. Como será mais adiante? Provavelmente os papéis se inverterão. Serão os homens que retomarão a iniciativa do jogo da sedução explícita e vão querer seu lugar ao sol. Inclusive judicialmente.
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