O pai da criança
O João estava na sala de espera da empresa que o contratara para um serviço de carpintaria elementar esperando que o pagassem pelo trabalho. Enquanto providenciavam o cheque – ele pediu em dinheiro, mas normas são normas, lhe disseram – ele folheou uma revista sobre aviação. Como não entendia lhufas, foi correndo os olhos sobre as legendas das fotos e uma delas lhe chamou a atenção. A foto mostrava um detalhe da asa e o texto mencionava que naquela parte ficavam os ailerons, superfícies móveis usadas para o avião fazer curva.
O nome da peça ficou ribombando na cabeça. Achou-o sonoro, diferente, nunca tinha ouvido falar que uma parte da asa fazia a curva de um avião. Mistérios que ele não entendia porque nem o ensino básico concluiu. Mas era um bom carpinteiro, lá isso era. Melhor do que muito doutor de canudo, consolou-se. Leu e releu o texto até que o chamaram para assinar o recibo e receber o cheque.
Então tomou uma decisão. Passou na agência do banco, que misericordiosamente não tinha fila no caixa, descontou o cheque, escondeu o dinheiro bem escondido na caixa pequena de ferramentas que levava, pegou o ônibus e foi direto para o hospital onde estavam sua mulher e o rebento, dirigiu-se para a recepção da maternidade, abriu o mais largo sorriso do mundo e radiante como o sol do meio-dia olhou para a recepcionista.
– Olá! Eu sou o pai do Ailerão.