Faltou algo, doutor
Meio que adotei um grupo de quatro sem-teto. O líder, 45 ou 50 anos, fica sentado na mureta salvadora. No fundo, uma mulher grávida dorme enrolada no cobertor. O líder cumprimenta e agradece educadamente quem dá e quem não dá dinheiro. Pois o aspirante a bom samaritano dava dinheiro para o grupo, até que teve uma ideia luminosa. Por que não dar sardinhas em lata, proteína com Ômega 3.
Passei no súper mais próximo e comprei uma dúzia de latas, com ou sem azeite, no vinagre ou no tomate. Não precisa de geladeira e dura anos fechada. O rosto do líder mostrou um sorriso esmaecido no rosto vincado pela vida miserável.
– Mas báh! Com massa ou pão…. Doutor, dá um troco pra comprar um suco?
Tinha razão. No seco, é brabo. Se fizeres algo, faça bem feito. Mas tem um final que me comoveu. Quando passei por eles no dia seguinte, ele pediu licença para falar.
– Doutor, nós agradecemos muito ao senhor. Não tanto pela comida, mais porque o senhor não vira a cara, nem joga dinheiro de longe e nos cumprimenta como se fôssemos pessoas comuns.
Puxa vida. A falta que faz um ombro amigo.