A bomba calórica
Corria intranquila a década de 1970. O terrorismo doméstico explodia cofres de governadores, a guerrilha armada e despreparada se instalava no sertão, bancos eram “expropriados”, bombas matavam sentinelas nos quartéis e aviões comerciais eram sequestrados.
No início aproavam Cuba, que ficava com a despesa logística de transportar os sequestrados de volta. Fidel Castro e o mano Raúl podiam ser comunistas, mas não rasgavam dinheiro capitalista. E mandaram os sequestradores cantar em outra freguesia. Comigo não, violão.
Por essas e por outras os aeroportos redobraram os cuidados. Os federais colocaram Raio X para detectar armas ou bombas, e detectores de metais viajavam de alto a baixo pelo corpo do pessoal. Pois foi numa dessas vistorias radioativas que surgiu um alarme. Em uma mala, cujo dono não estava à vista, apareceu o contorno de um objeto retangular. É bomba, ouriçaram-se os federais.
A mala foi discretamente transportada levada para um lugar ermo, e os agentes a crivaram de tiros de 9mm. Virou peneira, mas não explodiu. Foram ver de perto e observaram que, dos restos mortais da suposta bomba, escorria um líquido viscoso cor marrom e com cheiro pronunciado. Um deles tomou coragem e meteu o dedo e o levou à boca.
– É schmier – falou um federal, um tanto ultrajado.
Pela primeira vez na história, assassinaram um pote de schmier.