O Natal do perna de pau
Um lojista na esquina da Rua da Praia com a Vigário José Inácio contratou um palhaço com pernas de pau para atrair clientes em um Natal dos anos 1990. O performer tocava um trompete de competência de média para baixo, embora esforçado. Certa tarde, passou ao lado dele uma velhinha bem velhinha, toda de preto, com uma sombrinha da mesma cor, apesar do sol escaldante. Para no pé do jerivá humano e o escalou com o olhar. Quando os olhos chegaram lá em cima, ela falou bem alto, talvez com medo que o som não chegasse.
– Mas que Papai Noel mais feio!
Ultrajado na sua fantasia, o homem gritou de cima para baixo.
– Eu não sou Papai Noel, anote isso.
Com uma mão em concha no ouvido, ela devolveu o grito em boas condições.
– Se o senhor não é o bom velhinho, então o que o senhor é?
– Paiaço, entendeu bem? Eu sou pai-a-ço!
A velhinha subiu e desceu a cabeça como a dizer que concordava com a definição.
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