Os fantasmas do castelo
Lord Turner e a mulher Davine estão sentados na frente da enorme lareira do castelo de propriedade da família. Ambos já cruzaram os 80 anos, e os enganos e desenganos já não vêm mais ao caso. Vivem por obrigação.
Há mais de 400 anos. Lá fora, a borrasca açoita as venerandas paredes; dentro, os raios iluminam o pé direito muito alto. O vento fustiga e assobia nas calhas, entre um e outro rimbombar dos trovões fantasmas vão e voltam das masmorras arrastando grilhões. Davine levanta da cadeira estilo vitoriano, pega um atiçador e remexe o fogo. Nesta mesma posição, vira-se para o marido.
– Meu amado Thomas, se eu morresse hoje, o que você botaria na minha lápide?
Lord Turner se remexe na cadeira, toma um gole de xerez e faz uma careta por causa da gota.
– Eu colocaria estes dizeres, querida: aqui jaz Davine, fria como sempre o foi.
Davine fica estática por alguns segundos. Depois volta a sentar. Minutos depois, Turner levanta, é a vez dele atiçar o fogo. Apoia a mão no parapeito e volta a cabeça em direção à sua amada.
– E seu morresse, minha querida com olhos de violeta, quais seriam os dizeres?
Até os fantasmas pararam de arrastar seus grilhões.
– Eu botaria o seguinte, my dear: aqui jaz Thomas, duro como nunca o foi.
« A primeira vez F. A. »