O botão do pânico (1 de 2)
Uma das maiores aventuras dos meus tempos de piá era viajar sozinho de ônibus de São Vendelino a Porto Alegre. Em termos, bem entendo, meus pais ficavam comigo só em espírito, mas antes me colocavam no banco do Ford V8 do seu Kurt, com a recomendação que ficasse de olho na hora da parada certa – eu passava alguns dias nas casas dos meus tios.
Para a época, até que era uma proeza encarar a cidade grande cheia de luzes, mas também de perigos. Quando eu ia para a casa da tia Silvia e do tio Edmundo, descia na frente do Bazar Central na avenida Farrapos. Quando o destino era a casa do tio Edgar Selbach, quase no comecinho da Cristóvão Colombo, eu descia na esquina da Farrapos com a Garibaldi, subia uma quadra e mais uma e andava pouco à direita.
Eu já conhecia a casa do tio e da tia Marichen, mas sempre com algum adulto junto. Desta vez, era tudo comigo. Abracei a minha pequena mala e me fui. Não tinha erro, era só pegar a esquerda no posto de combustível, passar para a calçada da esquerda e lá estava o sobrado. Havia uma fabriqueta de perfumes no térreo, nos fundos. Meus tios moravam na parte de cima. Você apertava a campainha e alguém lá de cima abria o trinco da porta puxando uma cordinha.
Em chegando na casa do meu tio Edgar me descobri desamparado: eu não alcançava o botão da campainha no sobrado na rua Cristóvão Colombo. Estiquei-me todo e nem mesmo dando um pulinho conseguia. Meus amigos, confesso que entrei na antessala do pânico.