O sofrimento dos colonos
Amanhã, comemora-se o Dia do Colono, data em que também é comemorado o Dia do Motorista. As razões são distintas. No caso dos profissionais do volante, é por causa do dia de São Cristóvão. No caso dos colonos, a origem foi bem outra. Esta data foi instituída em 1965, e as comemorações tiveram como eixo cidades como São Leopoldo, Novo Hamburgo e Montenegro, que eu saiba. E o foco era o colono alemão, não o italiano ou brasileiro.
Vocês não têm ideia de como se sentiam os coitados quando o povo da cidade os chamava de colonos. Era uma humilhação e a autoestima dessa gente ia pro saco, porque era grande a dificuldade em falar português sem sotaque. O alemão sempre foi considerado uma língua “feia”, gutural que é. Como eu não padecia desse pecado de sotaque, sentia uma pena desgranida de ver a humilhação no rosto das vítimas, olhar baixo e, não raro, com lágrimas a rolar pela face.
A reação veio aos poucos. E a vingança também. Na minha infância e juventude, os colonos eram pobres, usavam roupas por gerações, não tinham carro e viviam uma vida de necessidades. Se você for para o interior das cidades do Vale do Caí, verá que eles têm não só um, mas dois carros e que levam uma vida muito melhor que o doutor da cidade grande. Sem falar numa vida mais tranquila, com menos sobressaltos.
Quanto menor e mais distante a ligação destas colônias com a dita civilização, melhor para eles. Eles podem saber que são felizes, mas se não sabem, é melhor que aprendam como são falas as luzes da cidade. Eu gostaria muito de morar no interior de uma destas colônias pelo menos por uma semana por mês, não fosse o fato de, infelizmente, não estar com o burro na sombra.
Eu sempre dizia para os amigos de infância e adolescência que pleiteavam junto ao governo o asfaltamento do acesso ao município, que pensassem melhor. Hoje, vocês pedem asfalto, amanhã pedirão quebra-molas, enfatizava. Além do mais, asfalto atrai bandidos.