O alemão do brasileiro
Câmeras, cinegrafistas, fotógrafos, repórteres e meio mar de gente invadiram o salão de uma instituição alemã tão logo começou a falar o jornalista Adroaldo Streck, falecido neste ano. O jornalista e radialista estava na Alemanha e foi convidado para falar em um seminário sobre a economia brasileira.
No início da fala, ninguém deu muita pelota para o brasileiro, mas à medida que ele avançava nas suas observações a alemoada da mídia criou um congestionamento de gente, câmeras, fios e cabos. Mas o interesse não era pela economia do Brasil, era pelo dialeto alemão que Streck falava pensando que se fazia entender, o que, na colônia alemã, se chama de plattdeutsch, o baixo alemão.
Esse dialeto, que alguns não reconhecem como dialeto e sim uma variante linguística, era o alemão falado pelos colonos quando chegaram no Brasil no século XIX e que literalmente o estacionou no tempo, aqui e acolá enriquecido por expressões portuguesas mas com tons do alemão – das Telegóda, por exemplo, o delegado.
Os alemães explicaram que acorreram à conferência porque foram informados que alguém fala uma língua que nenhum museu do som e nem academias de letras teutas conhecia. Sabiam que existia, mas ninguém que a falasse. Então parte não era de jornalista, mas de pesquisadores e linguistas.
Essa foi a contribuição que Adroaldo Streck deu para a terra de Goethe.