Uma manhã de enlouquecer

16 maio • Caso do Dia, NotasNenhum comentário em Uma manhã de enlouquecer

Acordei ontem de manhã com uma tristeza latente, inexplicável quase, algo assim como uma gravura que vi ainda criança, desenho tosco que nunca esquecerei. O professor o mostrou dizendo que era a expressão gráfica de “nostalgia”, um homem fechando as mãos em torno do fio de arame farpado. Fiquei fascinado pela explicação, até porque eu não entendia bem o que era nostalgia.

Pesadas nuvens

Abri o jornal e me congratulei, eu era um adivinho, sabia previamente que seria um dia triste: só tinha notícia ruim do início ao fim. Não era a pescaria por coisas ruins e o afundamento de notícias boas, não, era um retrato fiel da realidade brasileira e mundial. A começar com o pessimismo da economia, o BC admitia um PIB negativo no trimestre e, para este ano, a projeção caiu a míseros 1,5, 1,1%. A previsão inicial já era uma bosta.

Minha memória, meu refúgio

Sacudi minha memória como se a tivesse colocado em algum liquidificador e escapou algo que me fez sorrir. Há anos o Jornal do Comércio foi homenageado pela Assembleia Legislativa, e um dos deputados que falou disse que sabia de tudo sobre o BIP graças a nós. E emendou uma porção de BIP, então não era mero troca de letra. Bem, pelo menos zerei meu odômetro de humor.

Um rosário de imperfeições

O Governo Bolsonaro continua marchando de passo errado, não sabe vender seu peixe e, pior, dá ideia de quem redigiu a explicação descontextualizada foi seu maior inimigo. Então o vice Hamilton Mourão diz o que sabemos ser a verdade: o governo não sabe comunicar. Bidu.

A ferrovia…

…da comunicação tem duas vias, uma leva de dentro para fora e outra, de fora para dentro. Para a turma do Capitão é problema duplo: nem eles sabem como carregar o trem da comunicação que vai para a estação Opinião Pública e nem a composição que traz a carga da Opinião Pública para o seio do Governo é entendida. Ou o despachante palaciano abre a carga e diz que é tudo mentira no pacote.

Os grandalhões

Há algum tempo, uma dupla de empresários do tipo Dobermann vendeu quase toda a sua participação em plataforma de crédito para um banco estrangeiro por um bilhão e lá vai pedrada. O que sobrou venderam por outro tanto algum tempo depois.

Os pequerruchos

Do outro lado, vemos um governo afundado em dívidas em profundidade maior que o finado Titanic, sem ter saída à mão. O Estado, o ente Estado, está quebrado total. No caso gaúcho, mas não só ele, só lhe resta administrar a folha do funcionalismo, como se fosse essa sua principal função.

A impaciência de Jó

É com um sentimento e pena que vejo o governador gaúcho Eduardo Leite pedir a investidores norte-americanos que invistam no Rio Grande do Sul. Ponham-se no lado desses investidores. Tem demanda, mas não tem renda e, para complicar, uma burocracia asfixiante terminaria até com a paciência do personagem bíblico Jó.

O baile

O Brasil é um país cantador, o que serve como couraça para os rudes tempos que vivemos em que a procela nos afunda. Os argentinos pelo menos têm o tango, e uma frase do compositor argentino Enrique Santos Discépolo define muito bem. O tango, disse ele,  é um sentimento triste que se baila.

Se existir outro mundo e se o paraíso for verdade e não lorota, eu gostaria de pedir ao ente divino que distribuiu milagres que voltasse no tempo e que a frase de Discépolo fosse de minha autoria. Então, eles são tristes por natureza e nós, com nossos requebros, só temos os guizos falsos da alegria de Orestes Barbosa.

Porém…

 ..e sempre tem um, o dia termina, meu humilde tugúrio me espera e consegui dar um banho de descarrego na tristeza inicial. Recobrei os guizos da alegria que sei serem falsos, mas é o que a casa oferece. É como a velha história do cara que cai do alto de um prédio e, ao passar da metade, bota as mãos em concha e grita “estou passando pelo 50º andar e por enquanto tudo bem”.

Direito Agrário

A Farsul e a União Brasileira dos Agraristas Universitários (Ubau) realizam amanhã a partir das 9h o 1º Simpósio Gaúcho de Direito Agrário e Agronegócio. Objetiva fomentar o estudo do Direito Agrário, aproximando a sociedade acadêmica, produtores rurais, entidades de classe e demais interessados, por meio de palestras com temas relevantes à atividade agropecuária.

Na oportunidade ocorrerá o lançamento da 2ª edição (revisada, atualizada e ampliada) da obra coletiva “Direito aplicado ao Agronegócio: uma abordagem multidisciplinar” e da 1ª edição da publicação “Certificado de Recebíveis do Agronegócio: os sistemas agroindustriais e o mercado de capitais”.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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