Um carro no motel
Bem que ele tentou, mas deu muita chance ao azar. Na casa dos 50, arrumou uma amante de 20 e se embrenhou no mato da luxúria. Certa tarde, falou para a secretária que ia arejar a cabeça. Pegou a amásia e se foram para um motel no bairro Teresópolis. Quando ia estacionar no box, levou um susto desses de parar o coração.
Vislumbrou pela porta semiaberta o contorno de um carro igual ao da sua mulher. Igual não, era o dela. A placa não mente. Atordoado, devolveu a namorada ao seu lugar de origem, sentou num banco da Redenção e arquitetou a vingança. Mato ela, os dois?
Nenhum, nem outro. Já era noite quando chegou em casa. O carro dela estava na garagem. Encontrou a mulher vendo a novela e fazendo tricô durante os comerciais. Entrou de sola.
– Como é? O que fizeste de tarde?
Ela ergueu os olhos azuis.
– Fiquei em casa, benhê. Tinha que arrumar umas coisas.
– Arrumar, é? E teu carro?
Ela baixou os olhos azuis.
– Pois é, nem adiantava sair. Tua mãe pediu emprestado.