• Quando um sábio aponta o céu, o ignorante olha o dedo.

    • Provérbio japonês •

  • A senhora do guarda-sol (*)

    Publicado por: • 10 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Uma senhora, em vulnerabilidade social, andava pelas ruas de Porto Alegre com o seu carrinho de supermercados, contendo toda as suas coisas neste mundo. Normalmente, costuma-se dizer que a dor ensina a viver. Para esta senhora, a vida tornou-se uma luta constante pela falta de alimentos, de roupas e de um lugar para ficar abrigada do frio.

    Eu a encontrei um dia frio, deitada em uma calçada e de imediato a reconheci por causa do seu guarda-sol colorido inseparável. Dia e noite, ela o utilizava, até que eu resolvi perguntar sobre a importância de seu guarda-sol.

    Ela respondeu-me:

    – Este guarda-sol é o meu teto. Um abrigo para chuva, para o sol e também para me esquentar como uma estufa sob os raios do sol e me abrigar nas noites de frio. É minha casa.

    Eu pensei com os meus botões:

    – Um guarda-sol é para mim apenas um guarda-sol; porém as necessidades ensinam a tirar proveito das coisas e também agregam novos valores. Como é importante dar valor para as coisas.

    * Colaboração jornalista Osni Machado

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  • O estouro da boiada

    Publicado por: • 10 jul • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    Segundo a teoria geralmente aceita, o Universo teve origem em um pequeno ponto extremamente quente e pesado. Por razões desconhecidas o ponto fez BANG! E espalhou-se por todas as direções. Em uma fração de segundo, estrelas, planetas, satélites saíram tal como estouro da boiada Isso foi em torno de 13,7 bilhões de anos atrás, com margem de erro de 0,2 bilhão para menos e para mais, o que inspirou as pesquisas eleitorais. Desde então, tudo está indo cada vez mais longe, a tal ponto que nem sabemos o nosso tamanho, a casa que chamamos de Cosmos.

    Imagem: Freepik

    O PONTO DE FREADA

    Assim como os pilotos de F1 tem um ponto exato para frear em uma curva depois de um bom tempo de aceleração, cientistas procuraram e ainda procuram saber se a reta dos boxes foi prolongada ad infinitum ou se a Curva 1 está logo à frente. “Logo à frente” seriam centenas e até bilhões de anos. Isso se chama entropia. Então, depois da expansão vem a redução, a marcha-a-ré?

    HAMILTON NÃO PISA NO FREIO

    Há quem sustente que o movimento do Universo em sentido contrário fatalmente acontecerá. Em síntese, se estamos mesmo em uma alucinante corrida rumo ao nada, os corpos celestes ficarão tão distante uns dos outros que morrerão de frio. Nosso rico solzinho sifu mais dia menos dia. Esse raciocínio é um ponto de partida para quem acredita na possibilidade de viagem no tempo. Para trás, no caso.

    AS LATINHAS DE ALUMÍNIO

    Seria como ver um vídeo de trás para a frente. Voltaremos para o estágio pré-Big Bang, até que um dia alguém ou alguma coisa dirá Fiat Lux! E tudo recomeçará. É uma boa explicação para a criação do Cosmos – ele vai e volta. Mais ou menos como reciclar lata de alumínio.

    A CRIAÇÃO DO BRASIL

    De certa forma, é a história do Brasil. Éramos apenas um ponto enigmático em algum lugar longe de Portugal até que Pedro Álvares Cabral se mandou com seu barquinho, já de olho na bossa nova. Acompanhou-o Vaz e Caminha, já de olho na fabricação de uma extensa teia burocrática. Foi o nosso Big Bang. Dalí em diante, fomos crescendo até que a economia ia bem, apesar dos trancos e barrancos, especialmente no Império até especialmente com Dom Pedro II. Alargávamos nosso universo.

    AOS TRANCOS E BARRANCOS

    Fomos indo ora para cima, ora para os lados e ora para baixo, choque que gerou revoluções e golpes de toda ordem, sempre com apoio ou combate dos meios castrenses, os militares. Veio um baixinho chamado Getúlio Vargas que criou a ditadura, até elogiou A Alemanha nazista e é descrito como um homem de esquerda. E hoje cá estamos com a economia do jeito que está. É apenas continuação das crises dos anos 1960 em diante. Terminou a entropia, começou a retração do Universo Brasil. Marcha-a-ré engatada.

    MISSÃO IMPOSSÍVEL

    O Brasil não dá certo por causa da Cultura Brasil. Queremos tudo sem trabalhar, e a consequência óbvia foi a malfada Constituição de 88. Não fomos feitos para o trabalho e fora dos pontos fora da curva não somos do ramo. Não sabemos negociar e achamos que somos malandros. Em deterioração cultural, sem leituras e sem memória – e cada vez mais obesos –  voltaremos a ser um ponto brilhante e enigmático à espera de um Cabral e um escrivão.

    UTILIDADE PÚBLICA

    Estado vai ampliar o acesso de pacientes ao que há de mais moderno no combate ao câncer. O Hospital Moinhos de Vento investiu R$ 8 milhões na ampliação do Centro de Oncologia e na compra de um novo acelerador linear TrueBeam. O nome é complicado, mas o resultado não: rigor milimétrico no tratamento de tumores, reduzindo a dor e os danos a tecidos sadios.

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  • Quem cria nasce todo dia.

    • Arquiteto Jaime Lerner •

  • Ossos do ofício

    Publicado por: • 9 jul • Publicado em: A Vida como ela foi

    Vocês conhecem alguém que fechou uma parceria com urubu? Eu sim. Quase uma joint venture. É o auditor fiscal Abel Ferreira. Nos anos 1950, quando o plástico ainda não era onipresente como hoje, ossos tinham grande valor para a indústria de pentes, botões de roupas, puxadores e uma longa lista de utilidades. Então o Abel entrou no ramo de ossos.

    Morador de Gravataí, que na época tinha mais mato e campo do que casa, o hoje auditor fiscal recolhia bichos mortos e depositava os restos mortais de bois, vacas e outros animais numa área longe da cidade. Obviamente os urubus vinham de longe para se banquetear – essa ave de rapina sente cheio de carne podre a quilômetros.

    Peritos em limpar carcaças, a ponto de não sobrar meio grama de carne ou couro, os lixeiros da natureza deixavam a matéria prima do Abel brilhando no melhor estilo pobre mas limpinho. Assim que a força aérea terminava o serviço, Abel levava os ossos para seu destino final.

    Fico pensando que naquela época eu bem que poderia estar me penteando com um osso frito da parceria do Abel com os urubus.

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