O dia em que a Rua da Praia amarelou

23 out • A Vida como ela foiNenhum comentário em O dia em que a Rua da Praia amarelou

Os Hare Krishna estiveram muito em evidência em Porto Alegre durante os anos 1990. Com as cabeças raspadas e vestimentas parecidas com quimonos nas cor amarelo-alaranjado, os fiéis percorriam a Rua da Praia e transversais vendendo incenso e artefatos vários. Pelo menos o Centro Histórico naquele tempo rescendia a incenso e não à maconha.

Certo dia especialmente movimentado na cidade, pelo menos duas dúzias deles percorriam a rua em uma procissão; no meio, quatro carregavam um andor de alguma divindade da seita, naturalmente tudo em amarelo-alaranjado. Quando os vi, pareceu-me um quadro do Van Gogh. Então eles caminhavam ritmicamente e cantavam aquela musiquinha que faz lembrar o Bolero de Ravel.

Na boca da esquina com a rua Uruguai, um sujeito admirava o espetáculo, com o detalhe que estava mais adernado que o Titanic nos seus instantes finais. Não era nem meio dia e o cabra estava completamente bêbado, mais estaqueado que moirão de estância. Nisso, se aproxima os Hare. O borracho viu a banda passar e tentou focar a cena.

Assim que passou a metade da procissão, o gambá teve uma espécie de iluminação. Depois de conseguir o foco, abriu o bocão e se incorporou à turma, levantando os braços com os dedos como se estivesse pulando carnaval, para então entrar no espírito da coisa.

– Xô Satanás! Xô Satanás!

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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