O dia em que a Rua da Praia amarelou
Os Hare Krishna estiveram muito em evidência em Porto Alegre durante os anos 1990. Com as cabeças raspadas e vestimentas parecidas com quimonos nas cor amarelo-alaranjado, os fiéis percorriam a Rua da Praia e transversais vendendo incenso e artefatos vários. Pelo menos o Centro Histórico naquele tempo rescendia a incenso e não à maconha.
Certo dia especialmente movimentado na cidade, pelo menos duas dúzias deles percorriam a rua em uma procissão; no meio, quatro carregavam um andor de alguma divindade da seita, naturalmente tudo em amarelo-alaranjado. Quando os vi, pareceu-me um quadro do Van Gogh. Então eles caminhavam ritmicamente e cantavam aquela musiquinha que faz lembrar o Bolero de Ravel.
Na boca da esquina com a rua Uruguai, um sujeito admirava o espetáculo, com o detalhe que estava mais adernado que o Titanic nos seus instantes finais. Não era nem meio dia e o cabra estava completamente bêbado, mais estaqueado que moirão de estância. Nisso, se aproxima os Hare. O borracho viu a banda passar e tentou focar a cena.
Assim que passou a metade da procissão, o gambá teve uma espécie de iluminação. Depois de conseguir o foco, abriu o bocão e se incorporou à turma, levantando os braços com os dedos como se estivesse pulando carnaval, para então entrar no espírito da coisa.
– Xô Satanás! Xô Satanás!