Eu quero morar no celeiro
Também chamado de paiol nas colônias alemãs gaúchas, o celeiro é meu sonho de consumo de moradia. Em primeiro lugar pela localização, longe da cidade grande, longe de trânsito, longe da violência, longe do tráfico, longe de bicicletas assassinas nas calçadas, longe do trânsito maluco e muito, muito perto do que se convencionou chamar de Deus. Acho até que Ele está cada vez mais longe da Terra por não suportar a degeneração do planeta que criou. Talvez mais ainda do homem que criou. Maldito barro aquele que teve à feição.
O paiol, que a rigor é um deposito de armas e explosivos, nem chega perto disso. É um lugar de tranquilidade, a começar pela estrutura de madeira construída há mais de século, não raro, aquele tom de cinza que é sintoma de velhice com dignidade. Quase sempre erguido sobre estacas, a parte entre a terra e o piso era o paraíso das galinhas e seus pintinhos ciscando para buscar suas minhocas para comê-las al sugo. O galinheiro, que não ficava tão longe, era dormitório dos galináceos e lugar de sossego.
Em um canto da térreo, ficavam os instrumentos de trabalho da roça, enxadas, pás, arreios e coisas assim tão simples e gloriosas. Na “sobreloja” era guardada a forragem dos bois de tração e uma ou duas vacas leiteiras; à sua frente, o cocho onde se colocava pasto cortado fresquinho, geralmente capim-elefante, um sopão com restos de alimentos, legumes e hortaliças engrossadas com farelo de soja. O cheiro de bosta de vaca nunca me importunou. Bastava passar a enxada e pá e colocá-lo no seu devido lugar fora do paiol. A uma distância segura ficava a “casinha”.
A cereja do bolo era o teto de zinco. Quem nunca dormiu com chuva batendo durante horas e horas não sabe o que perde. Desta forma, tínhamos áudio, vídeo e imagem. E vocês aí com suas telas de computador e de televisão achando que sabem o que é bom nesta vida. Desculpem, vocês nunca viveram.
Eu quero morar no celeiro.
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