Eu não sei tudo
Revolução dos Cravos em Portugal, 1975. Eu trabalhava como pauteiro na falecida Folha da Manhã da Caldas júnior. Os militares portugueses (de esquerda) impuseram censura total. Restava só o DDI. Certa tarde, alguém lembrou que o jornalista gaúcho Clóvis Ott trabalhava no jornal Diário de Notícias. Com o auxílio da telefonista internacional, ligamos para a redação, sem muita esperança, porque em Lisboa eram 22h. Mas alguém atendeu. Se identificou como boy.
– Alô amigo. Por acaso o Clóvis Ott está?
– Não tem mais ninguém na redação.
– Mas o conheces?
– Sim, é boa gente.
– Sabes onde ele mora?
A ideia era pegar o endereço e obter o número do telefone com a telefonista local.
– Sei sim.
– Ótimo. Podes passar rua e número?
Silêncio. Segundos depois respondeu.
– Sei lá ir. O resto não sei.