Diário da peste
ENQUANTO o pico dos casos não vem, permitam-me um pouco de otimismo. Primeiro, reitero que os médicos acham que o número de casos no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre deveria ser maior de acordo com as projeções iniciais. Segundo, olhando os números gaúchos e porto-alegrenses do ponto de vista de internados ou já tratados não é o horror que se pensa. Sim, o isolamento é uma das causas, mas não deve ser a única.
LEMBRAM que, em meados de março, os especialistas disseram que haveria uma explosão de casos em poucos dias? Não houve. Lembram que eles também disseram que a taxa de letalidade começaria uma curva ascendente mais abrupta? Não se confirmou.
PARA começar, em parte das pequenas cidades e vilas, o comércio funciona e as pessoas estão mais soltas nas ruas. Nossos vigilantes olhos jornalísticos não enxergam miudezas, sempre foi assim. No entanto, o todo é formado pelas partes.
MĖDICOS amigos meus dizem que quase dá para dizer que é doença de rico. O Hospital Moinhos de Vento, que é particular, já tratou de 120 casos. O Conceição, que é o QG do SUS, tratou 20. Não arrisco uma explicação, os infectados devem estar em outros hospitais, por aí. Mas dá um minhoca na cabeça.
MEU otimismo também é reforçado por notícias vindas da Austrália. Pesquisadores veterinários fizeram testes com vermífugos, que são largamente usados na criação de animais, fizeram testes in vitro – ATENÇÃO, in vitro – e constataram que eles inibem a replicação do coronavírus. E não foi de graça que usaram esse medicamento. Ele é conhecido por travar diferentes tipos de vírus. Já fizeram testes até com o HIV. Os australianos acreditam que a formulação para uso humano pode ser eficaz. Aos testes, senhores!
ESTÃO vendo as guampinhas ou antenas do malvado? Pois são eles que se atracam na célula humana, até atingir o núcleo. É um vírus “envelopado”. Quando ele está aninhado no lar doce lar, parte para a replicação. É aí que o vermífugo entra e corta o barato do Covid-19.
PORĖM, reforço que é promissor. Provisoriamente.
Vendo a história do teu pai lembrei uma do meu sogro em São Leopoldo. Foi num dia em que toda a família foi almoçar (tinha 4 filhos e netos). O assunto virou uma crise, uma guerra etc. Então Erich Otto Hugo Müller – meu sogro, levantou de sua cadeira e antes de bater com a porta do quarto, onde se refugiou (não era do seu perfil esse comportamento) olhou para nós todos e disse: Não sabem o que é sair nos jardins e campos e ver se acham nem que seja uma batata podre pra comer. Ele a irmã e os pais moravam em Dresden na Primeira Guerra Mundial e não tinham comida. Passaram muita fome e vieram para o Brasil e RS, em 1920, ele e tia Herta dois pré-adolescentes. Aqui ele viveu a Segunda Guerra e, pasmem, foi perseguido!!!
Jurema Josefa