Besteira engarrafada
Na edição de sexta-feira, comentei os lanches mais comuns dos anos 60 em Porto Alegre, alguns extintos. O melhor era o sanduíche de pernil de porco servido no Matheus, na Rua da Praia, defronte à Praça da Alfândega de Porto Alegre. O segredo era fatiar o pernil na hora; caso seja estocado, seca e fica sem graça. Esqueci de mencionar que o Matheus colocava no sanduba molho do cachorro-quente. Molho comum, nada rebuscado como hoje, alguns verdadeiros atentados.
Curioso que, naqueles tempos, era comum beber uma taça (ou um copo) de vinho no almoço. Hoje, só quem tem moleza de tarde pode se dar a esse luxo. Além disso, pega mal no serviço beber de dia. Outra bebida comum nos almoços era leite. Sim, um copo de 300 ml de leite. Ou então refrigerantes. Tirando Coca, Pepsi, Guaraná e assemelhados. O diferencial é que se bebia muito Soda Laranjada ou Soda Limonada, fabricadas pela Minuano e Charrua. Aliás, boa parte das cidades do Interior tinham a sua versão local. A Água da Pedra, de Lajeado, era a melhor por usar sua água mineral. Claro que o sabor era artificial. Mas era bom.
Em 1974, o Ministério da Agricultura fez uma daquelas besteiras que tanto nos caracterizam. Obrigaram os fabricantes de bebidas com sabor artificial a colocar 20% da fruta correspondente. Imaginem o problema logístico das empresas. Ficou uma droga, porque os 20% do suco adicionado quase sempre tinha muita polpa. Não raro azedava na garrafa. Perdia todo sabor. No mínimo, era um Frankenstein líquido.
É para vocês verem que besteira não tem idade.