As belas árias compostas por Mozart para as irmãs Weber

14 jun • ArtigosNenhum comentário em As belas árias compostas por Mozart para as irmãs Weber

Artigo do amigo e jornalista, Cristiano Dartsch: 

Constanze_mozart em 1840, 2 anos antes de sua morte

Constanze Mozart em 1840

No Youtube, procurando, acham-se  vídeos interessantes. Já encontrei música composta pelo Leonardo da Vinci, para terem uma ideia, entre tantas outras curiosidades, como fotos de supostos extra-terrestres. Para não me alongar  mais, vou agora entrar diretamente no assunto deste artigo, qual seja, a música composta para as irmãs Weber pelo gigagênio Wolfgang Amadeus Mozart. Em um  álbum lançado no final de 2015 e que preenche lacuna editorial com uma produção de alta qualidade, são apresentadas e comentadas diversas árias para concerto, agora cantadas pelo soprano coloratura francês Sabine Devieilhe. O álbum é intitulado Mozart & les soeurs Weber. “Soeurs” significa irmãs.

Essas árias foram compostas por Mozart para serem cantadas pela esposa Constanze e também por suas irmãs, depois cunhadas, Josepha e Aloysia, como musas inspiradoras, cada qual com suas características vocais valorizadas nas respectivas partituras. E todas então solteiras, de sobrenome Weber. Essas moças, nascidas na Alemanha e sobrinhas do compositor também alemão Carl Maria von Weber, entraram na vida de Mozart arrasando, quando este passou a lecionar música para a segunda em idade, Aloysia. Dessa relação, nasceu mais uma clássica paixão entre professor e aluna.

Aloysia Weber (1)

Aloysia Weber

Ao ter recusado seu pedido de casamento por Aloysia, seu grande e talvez maior amor, além da música, Mozart se voltou para Constanze, a terceira das irmãs em idade e que hoje seria titulada como plano B do compositor. Pressionado pelo futuro sogro para que assegurasse uma pensão, digamos, reparadora por deixar uma moça solteira alvo das más línguas em Salzburgo, mas apaixonado de fato, o compositor casou com Stanzi, como carinhosamente a chamava, na  exuberante Catedral de Santo Estêvão, em Viena.

As ilustrações mostram pintura da fulgurante Aloysia caracterizada para uma apresentação, além de um daguerreótipo (precursor da fotografia) de Constanze, em 1840, dois anos antes de sua morte. Ambas se transformaram nas duas principais musas, dentre as três irmãs cantoras, na vida do Amadeus compositor. A mais velha se chamava Josepha e a caçula, Sophie. Havia ainda um irmão, Johann Nepomuk.

Sabine Devieilhe

Sabine Devieilhe

Com exceção de Sophie, todas cantavam. E coube a Sophie a missão de acompanhar Constanze até o final de sua vida, em Salzburgo, quando já enviuvara também de seu segundo marido, o diplomata dinamarquês Georg von Nissen, a quem a música muito deve. Acompanhado por Constanze, viajou por diversos países amealhando trabalhos que Mozart, dispersivo como sempre, havia deixado aos cuidados de cantores, amigos,  instrumentistas e igrejas, dentre outros. O acervo recuperado pelo casal é notável.

Mas voltemos à Sabine, que aparece na terceira imagem. Proponho que assistam, agora, ao vídeo onde ela  é soberba, quase angelical, cantando uma ária composta por Mozart para Aloysia. Escutem e vejam se a interpretação não é sublime, de um anjo!
[embedyt] http://www.youtube.com/watch?v=FDG0ZjpItbA[/embedyt]

​A data dessa produção é anterior ao lançamento do álbum. O DVD  apresenta caráter documental. Sabine, junto com outros responsáveis pela produção, explica  como Mozart compôs as árias, procurando adequá-las  ao estilo de canto de cada uma das irmãs, maximizando o efeito das apresentações. Digitem o que segue e comprovem:

[embedyt] http://www.youtube.com/watch?v=jlnCs5eEZs8[/embedyt]

Ela fala francês, com legendas em inglês. Sua pronúncia dos textos em alemão, como na ária Nehmt meinen Dank (Levem meu agradecimento) é perfeita e com ótima dicção.

Aloysia foi uma excelente cantora, superior às irmãs. A músicas constantes no álbum foram em grande parte compostas para ela, como Vorrei Spiegarvi, o Dio. É o caso  também de (digitar no Google):

Sabine Devieilhe records Mozart “Alcandro lo confesso non so d’onde viene”

Sabine Devieille records Nehmt meinen Dank – Mozart

Sabine Devieilhe Mozart: Popoli di Tessaglia Io Non Chiedo

​Essa última detém um recorde reconhecido no Guinness. É na sua partitura que se encontra a nota mais aguda já escrita para a voz humana. E repetida!

Para Josepha, Mozart reservou um momento especial: cantar as árias da Rainha da Noite na estreia da ópera  A Flauta Mágica.
É outra peça que pode ser buscada, digitando-se:

Sabine Devieilhe Mozart La Flûte Enchantée Der Hölle Rache.

Por fim, chegamos à Constanze. Depois de compor tantas maravilhas, especialmente para  sua antiga paixão, Aloysia, Mozart se voltou para a esposa e lhe deu como presente de núpcias o arrebatador Christie Eleison, da Missa em Dó Menor e que deve ser cantado por soprano. Agregado, Stanzi recebeu de presente o Et Incarnatus est, da mesma missa. Essas são consideradas duas das mais belas passagens de todo o acervo da  composição sacra.

A propósito, no filme Amadeus, há uma belíssima passagem que mostra o compositor Antonio Salieri examinando partituras inéditas de Mozart que Constanze lhe havia trazido, pedindo sua opinião. Maravilhado, o compositor está apreciando justamente esse Kyrie, com a melodia aos fundos, quando a pilha de papéis lhe escapa das mãos e cai ao chão. Prestativa, Constanze junta as partituras do piso e, ingênua, ainda pergunta se não está bom…
Confiram o episódio digitando:

My favorite scene from Amadeus

A melodia desse Kyrie também aparece no Solfeggio K 393, composto para Constanze.
A propósito do caráter quase divino que a música de Mozart muitas vezes apresenta, socorro-me de texto do compositor, musicólogo e escritor vienense Kurt Pahlen, já falecido, em ” Nova História Universal da Música:
“E um de seus intérpretes magistrais, o regente Joseph Krips, expressou: “Alguns alcançam às vezes o céu com suas obras. Mas não Mozart…É de lá que ele vem!”

Ao que eu acrescento,finalizando, que já se perde na bruma do tempo a autoria dessa frase genial : “Deus criou Mozart para que a humanidade possa apreciar Sua música”.

Cristiano Dartsch – jornalista

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »