A invenção de Gregório
Na reta final de todo ano que finda, as pessoas fazem votos de feliz próximo ano, que seja melhor que este, mais as famosas resoluções de ano novo. Descreio dessas resoluções, a não ser que você tenha a disciplina de monge tibetano. Então, sobra o rescaldo do velhote, que tem dia e hora marcada para parir o bebê que ficará igual ao mesmo velhote em meros 365 dias. Tal como a caminhada anual dos gnus, todos em estafante busca de um pasto mais verde. Nesta longa jornada, nascerão muitos bebês, muitos cairão mortos de cansaço ou velhice ou serão devorados pelos predadores.
O Deus dos gnus é contemplativo. Resignados, estes animais atravessam centenas e até milhares de quilômetros na esperança de tempos melhores, individual e coletivamente, ano após ano, virada de ano após virada de ano, uma ida e uma volta. Temos que prestar eternas homenagens ao Papa Gregório XVIII. Não fosse ele e o seu calendário gregoriano, a humanidade viveria um ano sem fim, sem virada e sem esperanças de tempos melhores.
Esperança. É o que nos une.
(Publicado no blog no Ano Novo de 2014)