A cobra no palanque

1 jun • A Vida como ela foiNenhum comentário em A cobra no palanque

   O sindicalista a que me refiro nas notas sobre a greve dos petroleiros e que falava “a turma desistiram” existiu mesmo. Integrava o sindicato dos ferroviários em cidade do Vale do Caí, quando o Rio Grande do Sul ainda tinha ferrovias dignas deste nome e até uma estatal, a Viação Férrea do RGS. Sabotagens a inviabilizaram, sabotagens feitas, bom, deixa pra lá que o causo é outro.

   A tal liderança vociferava a favor do comunismo onde quer que fosse e tivesse mais de duas pessoas ouvindo. Era brizolista de quatro costados. Aí veio 1964, vieram militares e o Dops e o levaram para interrogatório. Perguntaram qual era a ligação dele com Leonel Brizola, a Operação Pintassilgo e o Grupo dos 11, iniciativas do engenheiro Leonel de Moura. Ele não só negou como jurou que não conhecia o ex-governador, “só de ouvir falar”. Exasperado, um dos interrogadores mostrou uma foto ampliada dele ao lado de Brizola em palanque de um comício.

    – E esse aí, vais me dizer que não sabes quem é?

   O cabra coçou as cabeça. Ator de primeira. Poderia dar aulas no célebre Actor’s Studio.

   – Bem, esse aí sou eu, mas o cara do microfone não sei quem é.

   – Como que não sabe, paspalho, esse é o Brizola! – rugiu o policial.

  O ferroviário deu um salto.

  – O quêêê, esse é o Brizola? Vige nossa senhora, se fosse uma cobra tinha me mordido!

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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