A cobra no palanque
O sindicalista a que me refiro nas notas sobre a greve dos petroleiros e que falava “a turma desistiram” existiu mesmo. Integrava o sindicato dos ferroviários em cidade do Vale do Caí, quando o Rio Grande do Sul ainda tinha ferrovias dignas deste nome e até uma estatal, a Viação Férrea do RGS. Sabotagens a inviabilizaram, sabotagens feitas, bom, deixa pra lá que o causo é outro.
A tal liderança vociferava a favor do comunismo onde quer que fosse e tivesse mais de duas pessoas ouvindo. Era brizolista de quatro costados. Aí veio 1964, vieram militares e o Dops e o levaram para interrogatório. Perguntaram qual era a ligação dele com Leonel Brizola, a Operação Pintassilgo e o Grupo dos 11, iniciativas do engenheiro Leonel de Moura. Ele não só negou como jurou que não conhecia o ex-governador, “só de ouvir falar”. Exasperado, um dos interrogadores mostrou uma foto ampliada dele ao lado de Brizola em palanque de um comício.
– E esse aí, vais me dizer que não sabes quem é?
O cabra coçou as cabeça. Ator de primeira. Poderia dar aulas no célebre Actor’s Studio.
– Bem, esse aí sou eu, mas o cara do microfone não sei quem é.
– Como que não sabe, paspalho, esse é o Brizola! – rugiu o policial.
O ferroviário deu um salto.
– O quêêê, esse é o Brizola? Vige nossa senhora, se fosse uma cobra tinha me mordido!