Um Brasil pela metade

26 set • NotasNenhum comentário em Um Brasil pela metade

Por que não me ufano deste país, Olavo Bilac? Porque depois, do Império – a República foi instituída por um golpe de Estado -, não conseguimos trabalhar em paz por muito tempo sem que surgisse um bochincho constitucional. Mas não só.

Somos um país pela metade com viés de um terço. Nada aqui consegue ser bem feito ou acabado. Obra pública nunca é entregue no prazo ou pelo preço licitado. Os serviços essenciais só existem em parte, orçamentos e projetos sempre tem algum nhemnhemnhem.

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É como a piada do inferno brasileiro. Quando tem fogo, o ajudante do diabo não foi trabalhar, quando chega a hora de espetar os condenados o almoxarifado informa que terminou o estoque de forcados ou tridentes, quando tem tudo isso, é feriado infernal ou Dia do Diabo. Em suma, vamos nessa que é moleza.

Funciona como piada, e só. A Constituição de 1988 é uma colcha de retalhos. Nem mesmo regulamentada, no todo.

Quando um diploma legal parece perfeito, lá vem uma corte superior dizer que não é bem assim e subverte a lógica.

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Na prática, nem buraco de rua e nem asfalto bom nas ruas e rodovias temos neste país que aboliu as ferrovias a partir de 1958 para dar lugar ao rodoviarismo. Mas que não tem estradas em condições e nem número suficiente delas. Perceberam nossa vocação de não dar certo?

Até mesmo o futebol, que funcionava bem e, de repente, abriu brecha para o malfeito. Frequentemente o VAR mais atrapalha que acerta, é mole?

Para não dizer que nada dá certo, temos as exceções que comprovam a regra. Uma delas foi a tarefa hercúlea de botar cédulas e moedas de real nos quatro cantos do país em um único dia. 

Sim, foi um feito, mas quando olhamos para baixo se vê o que falta fazer, posto que foi pela metade.

O esgoto, por exemplo. Menos da metade (48,4%) da Região Sul  é atendida com coleta de esgoto. E somente 46,7% destes 48 são tratados, metade da metade (dados do Instituto Trata Brasil).

Nem falo das regiões mais pobres. Só o que temos de sobra são médicos e jornalistas.

Não conheço muitos países. Mas todos que visitei em nenhum os pedestres e os motoristas são tão indisciplinados e imprudentes como em Pindorama.

Mas estamos cansados de saber disso. Todos dizem que é preciso fazer alguma coisa. Mas só é feita em parte. Depois, tipo casa arrombada, tranca de ferro.

Longo prazo para brasileiro é 30 dias, se o prazo for um ano e se for curto prazo já passou. Pois sim quer dizer não e pois não significa sim, que tal essa?

E também não temos memória. Nos anos 1970, o jornalista Ivan Lessa criou a frase “De 15 em 15 anos, o Brasil esquece os últimos 15 anos”.

Hoje, a marca é de 5 minutos e se for em caixa de supermercado ou loja é 15 segundos – você tem que dizer duas vezes se é cartão de débito ou crédito e se quer ou não declarar seu CPF.

De alguns meses para cá, a terra descoberta por Pedro Álvares Cabral conseguiu outra proeza. Os magistrados que levantaram a sujeira da Lava Jato hoje são considerados criminosos. E os criminosos foram absolvidos e, muito provavelmente, ganharão qualquer ação indenizatória que será paga por mim e você, não é uma maravilha?

Outra mania nossa é rir dos outros, como Portugal e piada de português. Só que a terra de Eça e Camões é um dos três países do mundo mais seguros com baixíssima criminalidade.

Olhe os telejornais e os jornais do nosso avozinho. Quando alguém briga em porta de boate ou assalta alguém é manchete por dias. Um repórter policial por lá morre de fome.

Também no Carnaval conseguimos nos subverter. Os sambas-enredo na realidade são marchas-rancho.

Para não dizer que…

…não falei de flores, aqui está um organismo vivo que funciona: a Embrapa, que completa 50 anos. Feliz aniversário, guria. O agro te deve muito.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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