Surpresa no doce
Comprei um doce de bela aparência em uma boa confeitaria. Branco por fora, um glacê parecia. Mas a atendente esclareceu que era chocolate branco por fora, pão de ló recheado com creme de não-sei-o-que. O formato era um triângulo isósceles perfeito. Normalmente, os doces são paralelogramos, com duas extremidades paralelas. Pedi para a moça que o embrulhasse, mas ela fez melhor, acondicionou-o em uma embalagem de plástico transparente, que depois são úteis como depósitos de clips ou similar.
Assim como os colegas do doce, cujo nome esqueci, este tinha um objeto não-identificado por cima, algo como outro triângulo murcho de cor azulada. Quando cheguei em casa, examinei melhor o estranho ser comestível antes de abocanhá-lo. O que seria aquilo? O azul parecia mais violáceo, um azul de calças jeans índigo blue – que é amarelo antes de tingir as calças, por sinal. Dei asas à minha imaginação e tive um sobressalto: parecia uma mariposa morta com asas encolhidas e depois tingidas. Nunca vi antes uma mariposa índigo blue.
Espetei bem espetado o bicho com alfinete, para ter certeza que estava morto, mas bem que podia ser uma mariposa-vampira, então ela seria imorrível. E agora, o que faço? Pensei em denunciar o caso para o Ibama, mas desisti. Muita burocracia. Neste preciso momento, ela levantou e ficou sentada com uma das patas acusadoras em minha direção. E falou com vozinha estridente:
– Não estás vendo que eu sou uma flor, seu idiota?