Sem espaço para a sociedade

28 jun • NotasNenhum comentário em Sem espaço para a sociedade

Um dos melhores deputados federais da bancada gaúcha não vai disputar a reeleição. Mais, vai deixar a política. Jerônimo Goergen (PP), que criou a desoneração da folha, a lei da liberdade econômica, entre tantas outras ações para o campo e a cidade, vai voltar a advogar.

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“A política hoje não tem muito espaço pra quem quer resolver problemas da sociedade ou desenvolver ações com efetividade”, lamenta.

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Além da desilusão de parlamentares que estão decepcionados com o lado escuro da força, essa constatação de Goergen traz um efeito pior ainda que a desistência dos bons. Faz com que cidadãos bem intencionados desistam de entrar na política partidária porque sabem que boa parte das siglas é um saco de gatos interessados apenas em se perpetuar no poder. E não se muda isso de uma eleição para outra.

Quem troca a pilha?

Tenho insistido no detalhe que boa parte das empresas, instituições e governos descuidam. Essa ficha caiu de forma definitiva quando trabalhava na Rádio Bandeirantes no programa Jornal Gente.

Certa feita, fui verificar as horas no relógio da parece do estúdio e vi… nada. A pilha deu os doces, e os ponteiros estavam mais parados do que água de poço.

Então perguntei a um gerente administrativo quem cuidava de repor as pilhas dos relógios de parede, essenciais para o andamento dos trabalhos. Ele me olhou surp´reso, meio que achando que eu estava delirando.

– Ora quem! Ninguém! Tem que avisar os Serviços Gerais!

Essa foi a resposta. É uma coisa de louco. Quem  cuida do relógio, quem cuida de molhar as plantas, quem verifica se os telefones estão funcionando, quem repõe as canetas Bic, cujas cargas estão vazias? Se levarmos para o geral de uma administração que se julga eficiente, veremos que, de detalhe em detalhe, forma-se um buraco grande que compromete todas as boas intenções de uma empresa.

Criou-se, de forma jocosa, nos anos 1970  a expressão “especialista em assuntos aleatórios”. Pois eles são necessários. Compartimentar deveres e obrigações funcionam como vasos comunicantes com água. Se um está vazio, cai o nível de água ou de qualquer líquido dos demais, até o ponto em que nenhum deles está 100% operacional.

Olha que já trabalhei em muitas empresas que não se preocuparam com a pilha do relógio da parede, eufemisticamente falando. Coincidência, ou não, elas acabaram mal ou ficaram se arrastando sem galgar nenhum degrau de eficiência, ou seja, de faturamento. Apenas estavam ali, preenchendo um espaço vazio até chegar um gatilho mais rápido.

O relógio dos partidos

Quando um partido político só tem pilhas velhas no relógio de parede dos seus principais líderes e candidatos eternos, quem deles cuida dos detalhes? Vez por outra, casualmente em anos eleitorais, cai a ficha quando veem que todo seu arsenal coletador de votos é pilha vazia. Como a política vive de e para as ilusões, vão empurrando com a barriga. Aquilo que falei ontem sobre o osso que ninguém larga.

O vale das cicatrizes

Às vezes é embaraçoso encontrar alguém que não se via desde antes da pandemia. Para nós e para eles. Como envelhecemos nestes três anos, minha Nossa Senhora!

É difícil encontrar alguém que se possa dizer “você não mudou nada” e  quando mudou – no sentido de remoçar – é de se perguntar quem foi o cirurgião plástico. Mas não estou aí para tirar a cereja do bolo de ninguém e me concentro no que ele ou ela fala, se é que mantinha conversa com ele ou ela antes da pandemia.

Tirando marcas invisíveis de alguma desgraça, da perda de familiares ou perda de status, dinheiro ou emprego, a maior parte está mais amarga ou resignada com a queda de qualidade física e de vida. Então só resta repetir “mas e a vida, o negócio é tocar pra frente”.

É mais desejo que realidade. Todos nós passamos maus bocados, de uma forma ou de outra. E quase todos nós temos cicatrizes que estão a mostrar que viver é atravessar um vale de lágrimas com alguns sorrisos pelo caminho, sorrisos que às vezes são mera contração de músculos faciais em procura de uma alegria de verdade.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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