Sem choro nem vela

6 dez • NotasNenhum comentário em Sem choro nem vela

Há muito tempo cristalizei opinião sobre o jornalismo emotivo. O jornalista deve ser o último a se emocionar, seja lá com que for.

Emocionar-se e fazer seu o choro ou a raiva da chamada opinião pública, este ente abstrato que é invocado por qualquer motivo, turva a visão crítica. Justamente daquele que deveria ver a realidade com a maior clareza possível.

– Então você quer que sejamos insensíveis, que não sejamos humanos.

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Precisamente. Isole o seu choro e o descarregue depois do trabalho finalizado. Como se tira a tampa da pia do banheiro cheia de água.

Faz bem para ele, mas sobretudo para a qualidade da informação.

Um trem do passado

No início dos anos 1950, a estatal Viação Férrea do RGS (VFRGS) operava os trens de passageiros Minuano, que cumpriam diversas rotas. Com confortáveis vagões Pullman e locomotivas diesel-elétricas embora com velocidade limitada, atraíam passageiros que antes dele só viajavam em vagões de primeira, segunda e terceira classe.

Um trajeto em particular me era muito atraente, a rota Porto Alegre-Caxias do Sul passando por São Leopoldo, Capela de Santana, Montenegro, onde eu morava com meus pais quando adolescente.

As ferrovias, sabem até os dormentes sob os trilhos, foram liquidadas a partir de 1959 para dar lugar ao rodoviarismo – sem rodovias. Uma coisa bem brasileira. Mas havia outro motivo que desgostava os usuários da VFRGS, as constantes greves determinadas pelo sindicato dos ferroviários, então sob influência do Partidão (Partido Comunista Brasileiro – PCB).

https://cnabrasil.org.br/senar

Os trilhos das ferrovias gaúchas eram bitola estreita (1m) porque temia-se a invasão das tropas argentinas chegadas por trem – as da Argentina tinham 1m20. Sem bitola, sem invasão, vê se pode. É o que dá acreditar em lenda urbana.

Atestado de não-residência

Durante um intervalo do programa Jornal Gente da Rádio Bandeirantes AM, do qual participei até 2013, um ouvinte perguntou como e onde se conseguia um atestado de residência se a pessoa ainda não tem conta de luz ou outra despesa fixa. Na Delegacia de Polícia, respondi por responder, porque foi a primeira coisa que lembrei, provavelmente porque eu mesmo devo ter passado por esta situação no passado.

Alguém falou que havia outras formas. Mas, a essa altura, eu já me dirigia a alguns devaneios típicos de filósofo prático-militante.

Imaginei a cena. Eu chego numa repartição e pergunto ao burocrata CDF suma cum lauda e que conselho eu poderia dar ao meu amigo. Meu córtex pré-frontal, que tem conexão direta com a elaboração e expressão de ideias, psicografava a provável resposta do Barnabé.

– Se esta pessoa não tem atestado de residência é porque ela não tem residência. Portanto, também não pode obter um atestado de residência.

Fico imaginando como um artista de circo mambembe consegue um atestado de residência.

Por oportuno

A burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor (Roberto Campos).

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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