Roupas no varal

14 jul • NotasNenhum comentário em Roupas no varal

Quando algo pega fogo, os bombeiros fazem o rescaldo do que sobrou. Nós aqui teremos que fazer a secagem do que sobrou.

Em tese, reforçando que “em tese”, nos próximos dias, teremos alguma folga da mãe natureza. Venho insistindo que vivemos a repetição das enchentes de 1983, há exatos 50 anos, o que pode ser conferido na reprodução das capas do jornal Zero Hora há várias décadas.

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Ninguém na redação nem nas editorias se ligou nisso. Às vezes, a redação é o lugar mais mal informado que existe. Ou, como escreveu Saint Exupéry, o essencial é invisível aos olhos.

Enquanto o céu desabava e o vento levava o que sobrou, os meios de comunicação deixaram o dia a dia de lado. Nos jornais impressos, a ordem é economizar papel, um dos três insumos mais caros ao lado da distribuição da tinta colorida.

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Já na versão online, embora não exista esse custo, também não dá para publicar uma enciclopédia pensando que o leitor vá ler tudo que está escrito.

O taxista que sabia das coisas

Um parênteses: logo que a palavra “logística” começou a ser usada a torto e a direito, coisa de 20 anos atrás, um taxista me perguntou o que exatamente vinha a ser essa palavra. Minha mãe, pensei, como vou explicar isso para ele? Mas eu não contava com a astúcia do motora.

Mal engatilhei a segunda frase quando ele me interrompeu.     

– Já sei! É frete!

Nem foi pergunta, foi afirmação. Nem corrigi. Não era bem isso, mas era o espírito da logística. Naquele tempo, o brasileiro começou a ouvir relatos de como países e cidades com pouco espaço dava tratos à bola para evitar a formação de grandes estoques, posto que isso implicava em custos.

Um exemplo que apareceu foram as montadoras, com imensos pátios cheios de carros esperando os caminhões cegonheiros. Agora imagina uma montadora no Japão, onde um apartamento “grande” não passa de 70 ou 80 metros quadrados e só rico pode comprar.

Foi o segundo milagre japonês – o primeiro foi o baby boom do pós II Guerra Mundial, quando os casais do país do sol nascente passaram novamente a ter filhos sem medo que eles fossem mortos por bombardeios. O PIB crescia 8%, 9% por ano e colocou o Japão como potência mundial passadas apenas duas décadas desde a rendição de Hiroshima. Como fazer para diminuir o tempo em que o carro sai da linha de produção até a garagem do comprador?

Ovo de Colombo japonês

A engenhosidade nipônica é sempre assombrosa. Os engenheiros começaram fazendo parcerias com os revendedores de formas a escoar rapidamente os carros. Mais, estimulavam os compradores a pegar o seu carro logo que chegasse no portão de saída.

É mais ou menos como uma dona de casa esperar o ovo ao lado da galinha.   Uma soma de melhoramentos reduziu o tempo de sete dias para chegar a algo que se julgava impossível, carros no pátio por menos de uma hora. E, depois, apenas 15 minutos de espera. Cabeça foi feita para ser usada, não para usar chapéu.

O dilema dos dentes

É conhecido o velho brocardo “Deus dá nozes para quem não tem dentes”. E um outro que resume melhor, a necessidade é a mãe da invenção.

Olhem o que a falta de espaço se tornou – uma cultura naquele país, eletrodomésticos e eletroeletrônicos cada vez menores e mais eficientes. A revolução veio com o transistor. E, na prática, o radinho portátil.

O radinho Spika vendeu como pão quente em todo o mundo e enriqueceu Akio Morita, fundador da Sony. Merecidamente, por sinal

Enquanto isso, em Pindorama…

Como o Brasil tem espaço de sobra, esbanja-o. E esbanjando não tem dificuldades em  criar espaços, cultura que desapareceu – em parte – com a logística. A versão brasileira das montadoras japonesas dos anos 1970 – os centros de distribuição. Compra e aluguel de áreas é um custo que compromete a rentabilidade, desgasta a máquina e dá lugar à concorrência.

A preocupação hoje é mais que economizar e otimizar o espaço. Pequenos centros de distribuição de produtos vieram para ficar devido ao binômio trânsito lento e custo do combustível aliado ao desgaste do equipamento.. Grandes, apenas para carregar caminhões para entrega em longas distâncias. 

Nas cidades é outra coisa. Não é à toa que grandes redes como as farmácias  Panvel e Coca-Cola usam veículos elétricos. A ordem é reduzir custos e chegar rápido ao consumidor.

Família acima de tudo

O porém de sempre é que os grandes supermercados são mais lentos na reposição de estoques que os mercadinhos de bairro, uma coisa bem nossa. Como geralmente é uma família que toca esses mercadinhos, as queixas do consumidor chegam rápido ao cara que decide separado apenas por um balcão.

Então é uma coisa paralela que, às vezes, estraga o negócio, a demora – ou falta – de comunicação do vendedor com o comprador.
Existe ainda a cultura bem gaúcha de não irritar o patrão com medo de perder o emprego. No popular, o cordão dos puxa sacos, mas essa já é outra história.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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